segunda-feira, 8 de junho de 2009

O silêncio, o poeta. O horror, o grito. E a poetiza.




Se há algum jardim em que valha a pena caminhar, é aquele em que se permite caminhar descalço, contemplando a verdade das coisas. É aquele em que o som propagado é o dos pássaros, nos mostrando a sua pequena liberdade de ser assim. É aquele em que não há perigo de machucar o pé e as rosas não tem espinhos, pois não necessitam dos mesmos. É aquele em que o poeta não precisa escrever, e que o silêncio só basta...

Entretanto, a elevação dos sentidos proporcionada por tal lugar se dá com acentuada volúpia por um especial fato: tal lugar representa a saída da tensão comum. Tal lugar representa o diferente, o belo, justamente por romper com o estado de tensão no ser. Thaumazein. Fascinação dos sentidos. A calmaria almejada após a tempestade que é ser no mundo contemporâneo. E haveria tamanha apreciação em estar em tal lugar se não houvesse um estado de tensão? Se não fosse 'assim', 'deste jeito', o modo de ser no mundo contemporâneo?

Diante da evidente incapacidade de não se submeter ao estado comum de ser, tensão dos sentidos, nos vemos diante de um estado de horror. Horror sim, horror. O mais puro estado de horror. Pois é justamente quando evidenciamos a imposição do fato social que se irrompe no silêncio nascendo a lúcida percepção, manifesta no mais profundo e horrorizado grito. Grito. O grito...!


Deste modo, é nesta dualidade permanente, guerra e paz, acolhedora de estado de tensões - onde mesmo o silêncio de um especial jardim representa uma afronta à tensão do estado de existência contemporânea - que temos o amálgama (sic) moral que entra em choque com o ser natural dos entes inteligentes. A moral e o costume enquanto antinatureza. Valores que chocam com atos que irrompem pelo instinto do ser, que insiste em ser o que é. Instinto que grita. Conflitos que solapam e curiosamente ao mesmo tempo constroem “identidades”. E que fazer, nesse momento? Recorrer às poetizas? “Como somos uma espécie condenada, prisioneira num barco que naufraga, como tudo é uma farsa de mau gosto, desempenhemos, afinal de contas, nosso papel; mitiguemos as penas dos nossos companheiros de prisão... decoremos o calabouço com flores e almofadas; sejamos o mais corretos possível.” (Virgínia Woolf)
Eng. Raphael Bortoli de Souza, em 16/05/2009

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