segunda-feira, 4 de maio de 2009

Elite da Tropa

O filme Tropa de ELITE, derivado do livro Tropa de Elite, é de longe o assunto preferido dos brasileiros (à exceção das curvas de Mônica Velloso), desde de sua estréia pirata, até a oficial, não se fala em outra coisa. Adentrou várias fatias sociais do mundo do crime, ainda que em alguns casos acidentalmente: pirataria. E aí vão, opiniões de personalidades importantes, jornalistas, sociólogos, antropólogos; todos querem falar (escrever). As opiniões se contrapõem: alguns confundem a figura de Wagner Moura com o próprio personagem; alguns não conseguem esconder a inveja de seu sucesso (caso de um apresentador de TV); outros julgam o filme violento demais (olha a mão na cabeça do bandido); outros realista demais (a verdade dói); outros se sentem perseguidos por verem sua profissão tão exposta (a carapuça serviu); outros imaginaram imediatamente estarem diante de uma conspiração de direita (levaram para o lado pessoal); outros são incapazes de acreditar que é o seu baseadinho (somado com o de todos os outros) que faz a ciranda circular; outros ficam meio em cima do muro com medo de ferir sua clientela (leitor); deu de tudo! Preocupados com o resultado de suas resenhas, parecem não verem todos os raios que as drogas atingem. Existe um universo subterrâneo, pincelado pelo livro(classe média que se droga) mas que na “vida real” não é sequer contabilizado: são as vítimas das drogas que remanesceram dos anos 70 e 80 e apesar de vivos, suas vidas estão mortas. São os jovens de classe média e alta de antigamente (somados aos Hippies cinquentões, esses mais visíveis, pois estão nas praças vendendo colares). Criados por pais machistas, que amavam suas amadas amantes, e jogavam toda energia financeira com muita vaidade nos filhos, em forma de carros, viagens e moradia para freqüentarem supostos cursinhos nas melhores capitais do Brasil acreditando estarem proporcionando educação aos seus filhos. Suas esposas, escondidas atrás de seus corpinhos rechonchudos, e soutiens intactos, viviam na resignação. Suas intuições eram ignoradas. As de opiniões mais arrojadas eram insistentemente rejeitadas pela sociedade. À frente de seu tempo, só as artistas podiam ser. Os filhos ingenuamente acreditavam que maconha não viciava, cocaína era só um estimulante de finais de semana, cigarro era um companheiro que acalmava e o álcool apenas um acessório de tudo isso; sem falar nos pesadões LSD e chá de cogumelo. Grave erro! Hoje esses jovens é que são os pais de família. Ironia, a maioria não perdoa seus pais, ainda que internamente, mas repetem insistentemente alguns dos mesmos erros que não conseguem perdoar neles. Desde aquela época consomem suas drogas, indiscriminadamente dentro de seus lares, subestimando a capacidade de percepção de seus jovens filhos. É só sexo, drogas e rock and roll. O problema já atravessa a primeira geração e encosta na segunda. Essa parcela (que não é pequena) das décadas de 60 e 70, que caiu nessa arapuca, não cresceu. Vive de mesada até hoje, despistada em forma de herança e sem medo da fonte secar. Não percebe que daqui à alguns anos tudo estará bebido, cheirado ou fumado. São pessoas que estagnaram suas vidas nas drogas e certamente nesse momento em que escrevo, estão enrolando seus baseados ou batendo suas carreiras. Alguns deles concluíram a faculdade, mas nunca tiveram força nem física nem mental para se empenhar profissionalmente. Casaram-se, quase todos, e suas esposas (às vezes também porras loucas dessas décadas), ou compartilhavam as drogas, ou separavam-se depois de alguns anos de expectativas, seguidos de desilusões. Fracasso comprovado. Eles, apesar de anti-sociais, curtem ainda os antigos amigos, que continuaram por um tempo dando uns tapinhas, mas definitivamente desistiram em busca de conforto e tranqüilidade financeira e emocional. Esse universo existe, essas pessoas existem, apesar de desapercebidas, e se você chegou a ler esse artigo até aqui, e passou sua juventude nessas décadas não precisa de muito esforço para lembrar de vários amigos que vivem nessa situação. Agora, imagine e some: sua cidade, seu estado, o Brasil e o Mundo. Enquanto não virar estatística, ninguém mexe, amigos, familiares, governo... Não fazem outra coisa, a não ser fumar e cheirar, se fosse sólido comê-los-ia. É a corrosão silenciosa, de conceitos, estruturas, famílias e vidas. Quando alguém olhar vai ser tarde! Essa tropa não será mais de elite.

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