sexta-feira, 29 de maio de 2009

Transtornos de Personalidade - breve resumo

Um transtorno de personalidade aparece quando traços do indivíduo estão muito inflexíveis e mal-ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que enfrenta, causando a ele próprio, ou mais comumente aos que lhe estão próximos, sofrimento e incomodação. Geralmente esses indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez que os traços de caráter pouco geram sofrimento para si mesmos, mas perturbam suas relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares aconselhem o tratamento. Geralmente aparecem no início da idade adulta e são cronificantes (permanecem pela vida toda) se não tratados.

Abaixo seguem resumo do perfil de alguns dos Transtornos de Personalidade existente:

Paranóide – Indivíduos desconfiados, que se sentem enganados pelos outros, com dúvidas a respeito da lealdade dos outros, interpretando ações ou observações dos outros como ameaçadoras. São rancorosos e percebem ataques a seu caráter ou reputação, muitas vezes ciumentos e com desconfianças infundadas sobre a fidelidade dos seus parceiros e amigos.

Esquizóide - Indivíduos distanciados das relações sociais, que não desejam ou não gostam de relacionamentos íntimos, realizando atividades solitárias, de preferência. Pouco ou nenhum interesse em relações sexuais com outra pessoa, e pouco ou nenhum prazer em suas atividades. Não têm amigos íntimos ou confidentes, não se importam com elogios ou críticas, sendo frios emocionalmente e distantes.

Esquizotípica - Indivíduos excêntricos e estranhos, que têm crenças bizarras, com experiências de ilusões e pensamento e discurso extravagante. Falta de amigos e muita ansiedade no convívio social.

Borderline - Indivíduos instáveis em suas emoções e muito impulsivos, com esforços incríveis para evitar abandono (até tentativas de suicídio). Têm rompantes de raiva inadequada. As pessoas a sua volta são consideradas ótimas, mas frente a recusas tornam-se péssimas rapidamente, sendo desconsideradas as qualidades anteriormente valorizadas. Costuma apresentar uma hiperatividade afetiva, em que as situações boas são ótimas ou excelentes, e as ruins ou desfavoráveis são péssimas ou catastróficas. Padrão global de instabilidade dos relacionamentos interpessoais, da autoimagem e dos afetos e acentuada impulsividade q se manifesta no inicio da idade adulta e está presente em uma variedade de contexto indicado por no mínimo 5 dos critérios: 1 – esforços frenéticos no sentido de evitar um abandono real ou imaginário. 2 – um padrão de relacionamento interpessoais instáveis e intensos, caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização. 3 – perturbação da identidade, instabilidade acentuada e resistente da autoimagem ou do sentimento de eu (self); 4 – impulsividade em pelos menos 2 áreas potencialmente prejudicadas a própria pessoa (finanças, sexo, abuso de subs, imprudência na direção). 5- recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de comportamento automutilante. 6 – instabilidade afetiva devido a uma acentuada reatividade do humor. 7 – sentimentos crônicos de vazio. 8 – raiva inadequada e intensa ou dificuldade em controlar a raiva. 9 – ideação paranóide, transitória e relacionada ao estresse ou a graves sintomas dissociativos.

Narcisista - Indivíduos que se julgam grandiosos, com necessidade de admiração e que desprezam os outros, acreditando serem especiais e explorando os outros em suas relações sociais, tornando-se arrogantes. Gostam de falar de si mesmos, ressaltando sempre suas qualidades e por vezes contando vantagens de situações. Não se importam com o sofrimento que causam nas outras pessoas e muitas vezes precisam rebaixar e humilhar os outros para que se sintam melhor.

Anti-social - Indivíduos que desrespeitam e violam os direitos dos outros, não se conformando com normas. Mentirosos, enganadores e impulsivos, sempre procurando obter vantagens sobre os outros. São irritados, irresponsáveis e com total ausência de remorsos, mesmo que digam que têm, mais uma vez tentando levar vantagens. Podem estabelecer relacionamentos afetivos superficiais, mas não são capazes de manter vínculos mais profundos e duradouros. Indicando por no mínimo 3 dos seguintes itens: 1 – incapacidade de adequar-se as normas sociais com relação a comportamento lícito, indicada pela execução repetida de atos que contribuem o motivo de detenção; 2- propensão p enganar os outros p obter vantagem pessoal por prazer; 3- impulsividade ou fracasso em fazer planos p o futuro; 4- irritabilidade e agressividade indicados por repetidas lutas corporais ou agressão física (pode aparecer ou não); 5 – desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia; 6 – irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter o comportamento laboral consistente ou de honrar obrigações financeiras; 7 – ausência de remorso indicado por indiferença ou racionalização por ter ferido, mau tratado ou roubado alguém. Critério B o ind. Tem que ter no mínimo 18 anos. Critério C existem evidencias de trás de conduta no inicio dos 15 anos. Critério D a ocorrência do comportamento anti-social não se dá exclusivamente durante o curso de esquizofrenia ou episódio maníaco.

Histriônica - Indivíduos facilmente emocionáveis, sempre em busca de atenção, sentindo-se mal quando não são o centro das atenções. São sedutores, com mudanças rápidas das emoções. Tentam impressionar aos outros, fazendo uso de dramatizações, e tendem a interpretar os relacionamentos como mais íntimos do que realmente são.

Obsessivo – Compulsiva - Indivíduos preocupados com organização, perfeccionismo e controle, sempre atento a detalhes, listas, regras, ordem e horários. Dedicação excessiva ao trabalho, dão pouca importância ao lazer. Teimosos, não jogam nada fora ("pão-duro") e não conseguem deixar tarefas para outras pessoas.

Esquiva - Indivíduos tímidos (exageradamente), muito sensíveis a críticas, evitando atividades sociais ou relacionamentos com outros, reservados e preocupados com críticas e rejeição. Geralmente não se envolvem em novas atividades, vendo a si mesmos como inadequados ou sem atrativos e capacidades.

Dependente - Indivíduos que têm necessidade de serem cuidados, submissos, sempre com medo de separações. Têm dificuldades para tomar decisões, necessitam que os outros assumam a responsabilidade de seus atos, não discordam, não iniciam projetos. Sentem-se muito mal quando sozinhos, evitando isso a todo custo.

Sem Outra Especificação é uma categoria oferecida para duas situações: 1) o padrão de personalidade do indivíduo satisfaz os critérios gerais para um Transtorno da Personalidade e existem traços de diferentes Transtornos da Personalidade, mas não são satisfeitos os critérios para qualquer Transtorno da Personalidade específico; ou 2) o padrão de personalidade do indivíduo satisfaz os critérios gerais para um Transtorno da Personalidade, mas o clínico considera que o Transtorno da Personalidade apresentado não está incluído na Classificação (por ex., transtorno da personalidade passivo-agressiva).

Não podemos esquecer que esses traços de personalidade muitas pessoas ao nosso redor possuem, mas não necessariamente se encaixam nos critérios de Transtornos de Personalidade do CID X e do DSM IV. Para diagnosticar uma pessoa com esses transtornostemos que seguir um procedimento muito rígido, complexo e longo, que dura no mínimo 06 meses de investigação, para depois chegarmos a hipóteses de um dignóstico.
Em todos os esses casos citados acima é indispensável o acompanhamento com psiquiatra para acompanhar receitar e acopanhar a medicação. Somente com a união da psicoterapia e da psiquiatria (farmacologia) é que podemos proporcionar o bem estar ao indivíduo e a seus familiares para que tenham uma vida mais digna, mais amena e proveitosa.

domingo, 10 de maio de 2009

Carlos Alexandre Dumont




Carlos Alexandre Dumont - CARICO


Natural de Araxá (MG), Carlos Alexandre Dumont, o Carico, é arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura da UFMG em 1982. Atua nas áreas de Arquitetura de Interiores comercial e residencial, desenvolvendo também desenhos de mobiliários. Assinou projetos de arquitetura de interiores de lojas, escritórios e residências nos seguintes estados: Pernambuco, Rio Grande do Norte, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, Alagoas, Ceará, Sergipe, Rio Grande do Sul e Paraíba.

Oswaldo Montenegro




Bandolins
Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro


Como fosse um parque
Nessa valsa triste
Se desenvolvesse

Ao som dos Bandolins...
E como não?
E por que não dizer
Que o mundo respirava mais


Se ela apertava assim...
Seu colo como
Se não fosse um tempo
Em que já fosse impróprio
Se dançar assim
Ela teimou e enfrentou
O mundo
Se rodopiando ao som
Dos bandolins...

Como fosse um lar
Seu corpo a valsa triste
Iluminava e a noite
Caminhava assim
E como um par
O vento e a madrugada
Iluminavam a fada
Do meu botequim...

Valsando como valsa
Uma criança
Que entra na roda
A noite tá no fim
Ela valsando
Só na madrugada
Se julgando amada
Ao som dos Bandolins...




Entre uma Balada e um Blues
Oswaldo Montenegro


Quando os bichos dançam com as fadas

Entre uma balada e um blues

A paixão cai da madrugada lá do céu escorrem azuis

Pingam luas, gotas aladas

Entre uma balada e um blues

No repouso das cavalgadas quando a noite abranda essa luz

No caloor das mãos apertadas reconforta a mão que conduz

Um amor dos contos de fadas

Entre uma balada e um blues

Quando os bichos dançam com as fadas

Entre uma balada e um blues

Da paixão cai da madrugada lá do céu escorrem azuis

Pingam luas, gotas aladas

Entre uma balada e um blues

No repouso das cavalgadas quando a noite abranda essa luz

Do calor das mãos apertadas reconforta a mão que conduz

Um amor dos contos de fadas

Metade

Oswaldo Montenegro
Composição: Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho Não me impeça de ver o que anseio.

Que a morte de tudo em que acredito Não me tape os ouvidos e a boca Porque metade de mim é o que eu grito Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe Seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada Mesmo que distante Porque metade de mim é partida Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que falo Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor Apenas respeitadas Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos Porque metade de mim é o que ouço Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora Se transforme na calma e na paz que eu mereço E que essa tensão que me corrói por dentro Seja um dia recompensada Porque metade de mim é o que pensoMas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste E que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso Que eu me lembro ter dado na infância Por que metade de mim é a lembrança do que fui A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais que uma simples alegria Pra me fazer aquietar o espírito E que o teu silêncio me fale cada vez mais Porque metade de mim é abrigo Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta Mesmo que ela não saiba E que ninguém a tente complicar Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer Porque metade de mim é a platéia A outra metade é a canção.

E que a minha loucura seja perdoada Porque metade de mim é amor E a outra metade também.

Secos & Molhados




Secos & Molhados foi uma banda brasileira, criada pelo compositor João Ricardo em 1971. Canções do folclore português, como "O Vira", misturadas com a poesia de Cassiano Ricardo, João Apolinário, Vinícius de Moraes e Fernando Pessoa, entre outros, fizeram do grupo um dos maiores fenômenos musicais do Brasil.História

Primeiros anos
A formação inicial do grupo era composta por: João Ricardo (violão de doze cordas e gaita), Fred (bongô) e Antônio Carlos, ou Pitoco, como é mais conhecido.
O som completamente diferente à época, fez com que o Kurtisso Negro de propriedade de Peter Thomas, Oswaldo Spiritus e Luiz Antonio Machado no bairro do Bixiga, em São Paulo, local onde o grupo se apresentava, fosse visitado por muitas pessoas, interessadas em conhecer o grupo. Entre os “curiosos” estava a cantora e compositora Luli, com quem João Ricardo fez alguns dos maiores sucessos já gravados no Brasil ("O Vira" e "Fala").
Fred e Pitoco, em julho de 1971, resolvem seguir carreira solo e João Ricardo sai à procura de um vocalista. Por indicação de Luli, conhece Ney Matogrosso, que muda-se do Rio de Janeiro para São Paulo. Depois de alguns meses, Gerson Conrad, vizinho de João Ricardo, é incorporado ao grupo. O Secos & Molhados começa a ensaiar e depois de um ano se apresenta no teatro do Meio, do Ruth Escobar, que virou um misto de bar-restaurante chamado "Casa de Badalação e Tédio".

Formação Clássica (1973-1974)
No dia 23 de maio de 1973, o grupo entra no estúdio "Prova" para gravar – em sessões de seis horas ao dia, por quinze dias, em quatro canais – seu primeiro disco, que vendeu mais de 300 mil cópias em apenas dois meses, atingindo um milhão de cópias em pouco tempo. Os Secos & Molhados se tornaram um dos maiores fenômenos da música popular brasileira, batendo todos os recordes de vendagens de discos e público. O disco era formado por treze canções que ao ver da crítica, parecem atuais até os dias de hoje[1]. As canções mais executadas foram "Sangue Latino", "O Vira", e "Rosa de Hiroshima". O disco também destaca inúmeras críticas a ditadura militar que estava implantada no Brasil, em canções como o blues alternativo "Primavera nos Dentes" e o rock progressivo "Assim Assado" – esta de forma mais explícita em versos que personificam uma disputa entre socialismo e capitalismo. Até mesmo a capa do disco foi eleita pela Folha de São Paulo como a melhor de todos os tempos de discos brasileiros [2].
O sucesso do grupo atraiu a atenção da mídia, que convidou-os para várias participações na televisão. As mais relevantes foram os especiais do programa Fantástico, da Rede Globo. Sempre apareciam com maquiagens inusitadas, roupas diferentes sendo uma das primeiras e poucas bandas brasileiras a aderirem o glam rock. Em fevereiro de 1974, fizeram um concerto no Maracanãzinho que bateu todos os índices de público jamais visto no Brasil - enquanto o estádio comportava 30 mil pessoas, outras 90 mil ficaram do lado de fora[1]. Também em 1974 o grupo sai em turnê internacional, que segundo Ney Matogrosso, gerou oportunidades de criar uma carreira internacional sólida. Em agosto do mesmo ano, é lançado o segundo disco de estúdio da banda, que tinha em destaque "Flores Astrais", único hit do disco. O lançamento do disco foi pouco antes do fim da formação clássica da banda, que ocorreu por brigas internas entre os membros. Talvez por este motivo o segundo álbum – que veio sem título, e com uma capa preta – não tenha feito tanto sucesso comercial como o primeiro.

Periodo de inatividade (1974-1977)
Após o fim do grupo Secos & Molhados, os três membros seguiram em carreira solo. Ney Matogrosso lançou no ano seguinte, em 1975, seu primeiro disco com o nome de "Água do Céu-Pássaro" (recheado de experimentalismos musicais) e com o sucesso "América do Sul". João Ricardo lançou também em 1975 seu disco homônimo, mais conhecido por Pink Record. Gerson Conrad juntou-se a Zezé Motta e lançou um disco também em 1975.
João Ricardo adquiriu os direitos autorais sob o nome Secos & Molhados, após algumas brigas na justiça, e saiu a procura de novos músicos para que a banda tivesse novas formações.

Outras formações
A primeira formação após o fim do grupo em 1974 surgiu em maio de 1978, João Ricardo lança o terceiro disco dos Secos & Molhados com Lili Rodrigues, Wander Taffo, Gel Fernandes e João Ascensão. O terceiro disco foi lançado, e mais um sucesso do grupo – o que seria o último de reconhecimento nacional, e único fora da formação original – "Que Fim Levaram Todas as Flores?", uma das canções mais executada no Brasil naquele ano, o que trouxe o novo grupo de João Ricardo às apresentações televisivas.
No mês de Agosto de 1980, junto com os irmãos Lempé – César e Roberto – o Secos & Molhados lança o quinto disco, que não teve sucesso comercial. A quinta formação do grupo nasce no dia 30 de junho de 1987, com o enigmático Totô Braxil, em um concerto no Palace, em São Paulo. Em maio de 1988 sai o álbum "A Volta do Gato Preto", que foi o último da década. Simplesmente sozinho, em 1999, João Ricardo lança "Teatro?" mostrando definitivamente a marca do criador dos Secos e Molhados.

Discografia
Secos & Molhados - 1973
Secos & Molhados (II) - 1974
Secos e Molhados [III] - 1978
Secos e Molhados [IV] - 1980
A Volta do Gato Preto - 1988
Teatro? - 1999

Memória Velha - 2000

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Júlio Villani





Villani, Júlio (1956)
Nascimento 1956 - Marília SP - 15 de fevereiro
Formação : 1974 - São Paulo SP - Estuda na Faculdade de Artes Plásticas da Faap
1978/1980 - Londres (Inglaterra) - Aperfeiçoa-se na Watford School of Arts
1982/1983 - Paris (França) - Estuda na École Nationale des Beaux-Arts


O artista plástico Julio Villani passou pela Casa França-Brasil no Rio de Janeiro, SESC Araraquara, Centro de Arte Contemporânea Le Dixneuf (Montbeliard - França), SESC Santo André, e chega ao SESC Campinas. O artista Julio Villani, nascido em Marília, interior de São Paulo, apresenta, instalações, objetos, pinturas, e vídeo-animações. O universo do artista remete, nas pinturas, a influências do concretismo brasileiro, nas instalações, inspirações, citações e mesclas de obras de alguns artistas referenciais da história da arte, entre os quais, Guignard, Leonilson, e Arthur Bispo do Rosário. Na exposição Verso e reverso Julio Villani explorou a dualidade, a simetria, as tensões geradas entre as matérias e, ao mesmo tempo, as relações existentes entre as formas e seus sentidos.






Pablo Picasso





Pablo Ruiz Picasso (Málaga, 25 de outubro de 1881 — Mougins, 8 de abril de 1973) foi reconhecidamente um dos mestres da Arte do século XX. É considerado um dos artistas mais famosos e versáteis de todo o mundo, tendo criado milhares de trabalhos, não somente pinturas, mas também esculturas e cerâmica, usando, enfim, todos os tipos de materiais. Ele também é conhecido como sendo o co-fundador do Cubismo, junto com Georges Braque.

Biografia

Infância e juventude

Escultura no Daley Plaza (Chicago, Estados Unidos)
Nasceu em Málaga (Andaluzia) e recebeu o nome completo de Pablo Diego José Francisco de Paula Juan Nepomuceno María de los Remedios Cipriano de la Santíssima Trinidad Ruiz y Picasso, filho de María Picasso y López e José Ruiz Blasco.
Em torno do seu nascimento surgiram várias lendas, algumas das quais Picasso se esforçou a promover. Segundo uma delas, Picasso nasceu morto e a parteira dedicou a sua atenção à mãe acamada. Só o médico, Don Salvador, o salvou de uma morte por asfixia soprando-lhe fumo de um charuto na face. O fumo fez com que Picasso começasse a chorar. O seu nascimento no dia 25 de outubro de 1881, às onze e um quarto da noite, seria assim descrito por Picasso aos seus biógrafos, que a publicavam de boa vontade[1].
Roland Penrose, um dos mais conhecidos biógrafos de Picasso, procurou nas suas origens a razão da sua genialidade e da sua abertura à arte, algo natural na compreensão de um gênio. Na geração dos seus pais são vários os vestígios. O seu pai era pintor e desenhista, de bem medíocre talento. Don José, dedicava-se a pintar os pombos que pousavam nos plátanos da Plaza de la Merced, perto da sua casa[1]. Ocasionalmente, pedia ao filho para lhe acabar os quadros. A linhagem paterna possibilitou-se estudar até ao ano de 1541[1]. Da descendência materna pesquisada, Dona María contava entre os antepassados com dois pintores. As feições de Picasso são também semelhantes às da mãe[1].
Os primeiros dez anos de vida de Pablo são passados em Málaga[1]. O salário pequeno do pai como conservador de museu e professor de desenho na Escuela de San Telmo, a custo assegurava o sustento da família. Quando lhe ofereceram uma colocação com melhor remuneração no Instituto Eusébio da Guarda no norte do país, à hesitação sobrepôs-se a necessidade, e junto com a família, don José parte para a Corunha, capital de província à beira do Oceano Atlântico[1].
Os desenhos de infância de Picasso representavam cenas de touradas. Sua primeira obra, preservada, era um óleo sobre madeira, pintada aos oito anos, é chamada O Toureiro. Picasso conservou esse trabalho toda a sua vida, levando-o consigo sempre que mudava de casa. Anos mais tarde pintou outro quadro semelhante, A morte da mulher destacada e fútil. Picasso está zangado e rebelde. Este quadro é claramente uma expressão injuriosa da sua relação com a mulher.
A preocupação principal do pai com o pequeno Pablo era o seu aproveitamento escolar, mas nem por isso dispensou a oportunidade de fomentar o talento do filho. Desenhar foi desde cedo a forma mais adequada de Picasso se exprimir e, talvez por isso, secundário.[1]
Recusa claramente o ensino usual, e encarrega-se ele próprio da sua formação artística[1]. Com treze anos, e seguindo o modelo do pai, Picasso atingira já a perícia do progenitor (que também não era de grande refinamento). Ao contrário do que apontam algumas listas, Picasso era destro, como se pode ver no célebre documentário The Mystery of Picasso.
A família transferiu-se novamente, desta vez a Barcelona, na Primavera de 1895, e a prova de admissão na escola de arte La Lonja é feita com sucesso. Os trabalhos que deveria apresentar ao fim do mês, Pablo apresentava-os ao fim de poucos dias, ao cabo que o seu trabalho se destacava, inclusive, do dos finalistas. [1] Com catorze anos, Picasso conseguia superar as exigências de uma conceituada academia de arte. Trabalhos académicos, que segundo o próprio, ao cabo de vários anos o assustavam. Os trabalhos que fazia colocavam-no na série de conceituados pintores de Barcelona, como Santiago Rusiñol e Isidro Nonell, e o seu quadro A Primeira Comunhão é exposto na célebre exposição da época na cidade. [1] Apesar de ter optado por uma temática religiosa, este não deixa de ser um acontecimento privado, do plano familiar. Apesar de realista e de satisfazer as exigências académicas, por outro lado a obra acaba por ser uma tentativa de conbate ao convencionalismo.
Depois de uma estadia em Málaga, em 1897 instala-se em Madrid.

Entre Madrid e Barcelona
Em Madrid, instalado num novo atelier, inscreve-se na mais próspera e conceituada academia de artes espanhola, a Real Academia de Belas-Artes de São Fernando[1]. Constantemente, visita o Museu do Prado, onde copiava os grandes mestres, captava-lhes o estilo e tentava imitá-lo, o que se revelou, por um lado, um avanço, pois desenvolvia capacidade efémeras, e por outro lado, uma esagnação de um génio criativo limitado à cópia do trabalho dos históricos, cujas obras também vieram a ser alvo de uma revisitação e reinterpretação de Picasso em fases mais avançadas.
Porém, a sua estadia em Madrid é interrompida. No início de Julho daquele ano, Picasso adoece com escarlatina e a recuperação obriga-o a retornar a Barcelona, rocolhendo-se logo a seguir com Manuel Pallarés, seu amigo, para a aldeia Horta de Ebro nos Pirinéus. O recolhimento ajudou-o a restabelecer novos e ambiciosos projectos que levou a cabo assim que regressou a Barcelona. Afastara-se da academia e do lar paterno, e procurava abrir-se às inovações da arte espanhola, mantendo-se em contacto com os seus representantes mais célebres. O espaço de culta da vanguarda espanhola era o café Els Quatr Gats[1]. Ali conheceu os modernistas e reivalizou com a arte destes, influênciada pela Arte Nova francesa e pelas vanguardas britências.
Em 1900, nas instalações do mesmo estabelecimento, abre ao público a sua primeira exposição. Entretanto, o desejo de conhecer Paris aumentava.[1]

Picasso em Paris
Após iniciar como estudante de arte em Madrid, Picasso fez sua primeira viagem a Paris (1900), a capital artística da Europa. Lá morou com Max Jacob (jornalista e poeta), que o ajudou com a língua francesa. Max dormia de noite e Picasso durante o dia, ele costumava trabalhar à noite. Foi um período de extrema pobreza, frio e desespero. Muitos de seus desenhos tiveram que ser utilizados como material combustível para o aquecimento do quarto.

Picasso, Halmstad
Em 1901 com Soler, um amigo, funda uma revista Arte Joven, na cidade de Madri. O primeiro número é todo ilustrado por ele. Foi a partir desta data que Picasso passa a assinar os seus trabalhos simplesmente “Picasso”, anteriormente assinava “Pablo Ruiz y Picasso”.
Na fase azul (1901 a 1905), Picasso pintou a solidão, a morte e o abandono. Quando se apaixonou por Fernande Olivier, suas pinturas mudaram de azul para rosa, inaugurando a fase rosa (1905-1906). Trabalhava durante a noite até o amanhecer. Em Paris, Picasso conheceu um selecto grupo de amigos célebres nos bairros de Montmartre e Montparnasse: André Breton, Guillaume Apollinaire e a escritora Gertrude Stein.
Na fase rosa há abundância de tons de rosa e vermelho, caracterizada pela presença de acrobatas, dançarinos, arlequins, artistas de circo, o mundo do circo. No verão de 1906, durante uma estada em Andorra, sua obra entrou em uma nova fase marcada pela influência das artes gregas, ibérica e africana, era o protocubismo, o antecedente do cubismo. O célebre retrato de Gertrude Stein (1905-1906) revela um tratamento do rosto em forma de máscara.
Em 1912, Picasso realizou sua primeira colagem, colou nas telas pedaços de jornais, papéis, tecidos, embalagens de cigarros.
Apaixonou-se por Olga Koklova, uma bailarina. Casaram-se em 12 de julho de 1918. Neste período o artista já se tornara conhecido e era um artista da sociedade. Quando Olga engravidou, criou uma série de pinturas de mães com filhos.
Entre o começo e o fim da 2ª Guerra Mundial (1939-1945), dedica-se também à escultura, gravação e cerâmica. Como gravador, domina as diversas técnicas: água-forte, água-tinta, ponta-seca, litogravura e gravura sobre linóleo colorido. Além disso, sua dedicação à arte escultórica era esporádica. Cabeça de Búfalo, Metamorfose é um grande exemplo de seu trabalho com esse meio. É considerado um dos pioneiros em realizar esculturas a partir de junção de diferentes materiais.
Em 1943, Picasso conhece a pintora Françoise Gilot e tem dois filhos, Claude e Paloma e encontrou um pouco de paz e pintou Alegria de Viver.
Em 1968, aos 87 anos, produziu em sete meses uma série de 347 gravuras recuperando os temas da juventude: o circo, as touradas, o teatro, as situações eróticas. Anos mais tarde, uma operação da próstata e da vesícula, além da visão deficiente, põe fim às suas actividades. Como uma honra especial a ele, no seu 90ª aniversário, são comemorados com exposição na grande galeria do Museu do Louvre. Torna-se assim o primeiro artista vivo a expor os seus trabalhos no famoso museu francês. Pablo Picasso morreu a 8 de abril de 1973 em Mougins, França com 91 anos de idade.
Diz-se que levou toda a sua vida a saber pintar como uma criança.

Biografia cronológica
1881 - 25 de Outubro. Nasce em Málaga Pablo Ruiz Picasso, filho de Maria Picasso Lopez e José Ruiz Blasco.
1881 - 21 de Novembro. É batizado na Igreja de Santiago em Málaga, pelo padre José Fernández Quintero, celebrado o casamento de seus pais.
1888 - Influenciado pelo pai, começa a desenhar e pintar.
1893/1894 - Picasso dá início a seu trabalho artístico sob a orientação do pai.
1896 - Frequenta as aulas de desenho de La Lonja; é muito elogiado nos exames de admissão à escola.
1897 - Faz parte do grupo boémio de Barcelona; a primeira exposição é realizada em Els Quatre Gats, a sede do grupo; a primeira crítica sobre seu trabalho é publicada em La Vanguardia. Faz amizade com Jaime Sabartés e outros jovens artistas e intelectuais, que o introduzem no universo dos movimentos de pintura modernos (Toulouse-Lautrec, Steinlen etc). Seu quadro Ciencia y Caridad (Ciência e Caridade) recebe menção honrosa em Madrid. No outono é admitido no curso de pintura da Academia Real de San Fernando em Madrid.
1898 - Deixa a academia. Seu quadro Costumbres de Aragon (Hábitos de Aragão) recebe prémios em Madrid e Málaga.
1900 - Desenhos seus foram publicados na revista Joventut, revista de Barcelona. Vende três rascunhos a Berthe Weill.
1901 - Funda com Soler, em Madrid, a revista Arte Joven. O primeiro número é todo ilustrado por ele. Faz exposição de trabalhos em pastel no Salon Parés (Barcelona). Críticas elogiosas são publicadas em Pel y Ploma. Expõe no espaço Vollard em Paris. Crítica positiva é publicada em La Revue Blanche. Encontra Max Jacob e Gustave Coquiot. Tem início o período azul. Passa a assinar seus trabalhos simplesmente como "Picasso"; anteriormente assinava "Pablo Ruiz y Picasso".
1902 - Expõe 30 trabalhos no espaço de Berthe Weill em Paris. Divide um quarto com Max Jacob no Boulevard Voltaire.
1904 - Instala-se em Paris. Final do período azul.
1905 - Compram algumas das suas pinturas. Início do período rosa. Começa a fazer esculturas e gravuras. Pinta Garçon à la pipe e Auto-retrato com capa, um dos seus quadros mais famosos.
1906 - Conhece Matisse que, juntamente com os fauves, chocara o público no Salão de Outono do ano anterior. Época de transição para esculturas.
1907 - Conhece Braque e Derain. Visita a exposição de Cézanne no Salão de Outono. Começa a fase cubista com o quadro Les Demoiselles d'Avignon.
1908 - Faz as primeiras paisagens claramente cubistas. Faz a primeira exposição na Alemanha (Galeria Thannhauser, Munique).
1910 - Florescimento do cubismo. Faz retratos de Vollard, Uhde, Kahnweiler.
1911 - Primeira exposição nos Estados Unidos (Galeria Photo-Secession, Nova York). Kahnweiler publica Saint Matorel, de Max Jacob, com ilustrações de Picasso.
1912 - Faz sua primeira exposição em Londres (Galeria Stafford, Londres). Expõe em Barcelona (Galeria Dalman). Dá início às colagens.
1913 - Morte do pai de Picasso em Barcelona. Inicia o cubismo sintético.
1915 - Faz retratos com desenhos realistas de Vollard e Max Jacob.
1917 - Vai a Roma com Cocteau para criar cenografia para o balé Parade, dirigido pelo grupo de Diaghilev, Os Balés Russos. Mantém contacto com o mundo do teatro. Encontra Stravinsky e Olga Koklova. Visita museus e vê arte antiga e do período do Renascimento. em Roma, Nápoles, Pompéia, e Florença. Passa o verão em Barcelona e Madrid.
1918 - Casa-se com Olga Koklova.
1919 - Vai a Londres e faz desenhos para Le Tricorne.
1920 - Faz cenários para Pulcinella, de Stravinsky. Surgem temas clássicos em seus trabalhos.
1921 - Nascimento de Paul ( seu 1º filho ) . Faz muitos desenhos da mãe com a criança. Faz cenário para o balé Cuadro Flamenco. Faz as duas versões de Os Três Músicos e Três Mulheres na Primavera, trabalho usando diversos estilos.
1924 - Faz cenários para o balé Le Mercure; desenha a cortina para o Le Train Bleu. Dá início à série de grandes naturezas mortas.
1925 - Participa da primeira exposição dos surrealistas na Galeria Pierre em Paris. Além dos trabalhos clássicos, produz suas primeiras obras que apresentam uma violência contida.
1928 - Faz uma série de pequenas pinturas com cores vivas, com formas audaciosamente simplificadas. Dá início a um novo período em suas esculturas.
1930 - Adquire o Castelo de Boisgeloup, e nele monta seu estúdio de esculturas.
1931 - São publicados Le Chef-D'oeuvre Inconnu de Balzac (Vollard) e as Métamorphoses de Ovídio (Skira), ambos ilustrados com gravuras de Picasso.
1932 - Exposições retrospectivas em Paris (Galeria Georges Petit) e em Zurique (Kunsthaus). Um novo modelo, Marie-Thérèse Walter, começa a aparecer nas pinturas de Picasso.
1934 - Volta a pintar touradas.
1935 - Separação definitiva de Olga Koklova. Nascimento de Maia, filha de Marie-Thérèse Walter e do pintor.
1936 - Início da Guerra Civil Espanhola. Faz exposição itinerante pela Espanha. É nomeado director do Museu do Prado.
1937 - Edita gravura Sueño y Mentira de Franco (Sonho e Mentira de Franco) com texto satírico de sua própria autoria. Depois do ataque aéreo em Guernica ( em 28 de abril ) pinta o mural para o Pavilhão da República Espanhola ( Feira Mundial de Paris ).
1939 - Grande exposição retrospectiva é feita em Nova York (Museum of Modern Art). Morre a mãe de Picasso em Barcelona. Depois do início da Segunda Guerra Mundial, volta a Paris.
1941 - Escreve uma peça surrealista Desejo Pego pela Cauda. Começa a série Mulher na Poltrona.
1941 - Pinta o famoso quadro Dora Maar au chat.
1942 - Publicação de ilustrações com gravuras em água-tinta para o livro Histoire Naturelle de Buffon.
1945 - Exposição em Londres (Victoria and Albert Museum). Volta a fazer litografias.
1946 - Dá início à série de pinturas que têm por tema a alegria de viver.
1947 - Nascimento do filho Claude. Faz litografias e começa a fazer cerâmica na fábrica Madoura.
1948 - Exposição de cerâmicas na Masion de la Pensée Française (Paris).
1949 - Nasce sua filha Paloma. Expõe trabalhos iniciados a partir do início da guerra na Maison de la Pensée Française. A Pomba de Picasso é usada em cartaz do Congresso pela Paz de Paris e se torna símbolo universal.
1951 - Expõe esculturas na Maison de la Pensée Française. Faz exposição retrospectiva em Tóquio. Pinta Massacre na Coréia.
1952 - Pinta Guerra e Paz em Vallauris.
1953 - Exposições retrospectivas em Lyon, Roma, Milão, São Paulo. Separa-se de Françoise Gilot.
1954 - Pinta a série Sylvette. Inicia uma série de estudos com base em As Mulheres de Argel, de Delacroix.
1955 - Morte de Olga Koklova, sua ex-mulher. Expõe no Musée des Arts Décoratifs e na Bibliotèque Nationale em Paris e na Alemanha.
1956 - Faz série de cenas de interiores de estúdios.
1957 - Exposição retrospectiva em Nova York. Faz série de estudos baseado em As Meninas, de Velázquez.
1958 - Pinta o mural do prédio da Unesco em Paris. Adquire o castelo de Vauvenargues, perto de Aix.
1959 - Expõe linóleos.
1960 - Explora temas com naturezas mortas e interiores de inspiração espanhola.
1961 - Faz estudos sobre Déjeuner sur l'herbe, de Manet. Casa-se com Jacqueline Roque.
1962 - Série sobre o tema "Rapto das Sabinas". Recebe o Prêmio Lênin da Paz.
1963 - Série sobre o tema "O Pintor e seu Modelo".
1964 - Série sobre o tema "O Pintor e seu Cavalete".
1965 - Publicação de Sable Mouvant, de Pierre Reverdy com água-tintas de Picasso.
1966 - Seus 85 anos são comemorados com três exposições simultâneas em Paris.
1967 - São feitas exposições comemorativas em Londres e nos Estados Unidos. Ele volta a temas mitológicos.
1968 - A série integra 347 gravuras, a maioria com temas eróticos. Depois da morte de seu secretário e confidente Jaime Sabartés, ele doa sua série sobre As Meninas ao museu Picasso, de Barcelona.
1969 - Pinta 140 telas que são expostas no ano seguinte no Palais des Popes em Avignon.
1970 - Doa 2.000 telas a óleo e desenhos ao Museu Picasso de Barcelona.
1971 - Seus 90 anos são comemorados com exposição na Grande Galeria do Museu do Louvre. Torna-se o primeiro artista a receber esta honraria.
1972 - Trabalha quase que somente com preto e branco em seus desenhos e gravuras.
1973 - Morre em 8 de Abril em sua vila em Mougins, França. A sua primeira exposição póstuma (em maio) incluiu trabalhos feitos entre 1970 e 1972 e realizou-se no Palácio dos Papas, em Avinhão.

Posicionamento político
Apesar de expressar publicamente sua simpatia com relação as idéias anarquistas e comunistas e, por outro lado, através da arte expressar sua raiva diante das ações de Franco e dos Fascistas, Picasso se recusou a pegar em armas na Primeira Guerra Mundial, na Guerra Civil Espanhola e na Segunda Guerra Mundial.
Ao chegar em Paris em 5 de Maio de 1901 Picasso morou na casa de Pierre Manach um anarquista espanhol e negociador de artes do qual era amigo. Por este motivo desde aquela época, Picasso seria investigado pela polícia francesa[2]. Em algumas ocasiões o jovem Picasso teria até mesmo se auto-denominado anarquista, fato este que levantou ainda mais suspeitas das forças de ordem contra ele[3].
No entanto, durante a Guerra Civil Espanhola, Picasso que continuava vivendo na França mesmo tomando partido pelo lado dos Republicanos[4], teria se recusado a retornar a seu país de origem. O serviço militar para os espanhóis no estrangeiro era opcional e envolveria um retorno voluntário ao país para alistamento a um dos dois lados. Muitas especulações são feitas a respeito de sua recusa de tomar lugar na guerra. Na opinião de alguns de seus contemporâneos esta decisão foi tomada baseada nos ideais de pacifismo de Picasso; no entanto, para outros (incluindo aqui Braque) essa neutralidade aparente tinha mais a ver com covardia do que com princípios.
Ele também permaneceu à parte do movimento de independência da Catalunha durante sua juventude, apesar de ter expresso seu apoio geral e ter sido amigável com os ativistas da independência. A esta época filiou-se ao Partido Comunista.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Picasso permaneceu em Paris quando os alemães ocuparam a cidade. Os Nazistas odiavam seu estilo de pintura, portanto ele não pôde mostrar seu trabalho durante aquela época. Em seu estúdio, ele continuou a pintar durante todo o tempo. Embora os alemães tivessem proibido a fundição do bronze, Picasso continuou a trabalhar mesmo assim, usando bronze contrabandeado pela resistência francesa.
No ano de 1947, ao fim da Segunda Guerra, Picasso conheceu Miguel García Vivancos, um anarquista veterano da Guerra Civil Espanhola e da Segunda Guerra Mundial e pintor até então desconhecido. Impressionado com Vivancos, Picasso o acolheu em sua casa, se interessando por sua pintura e sua história. Posteriormente e, em parte pela influência de Picasso, Vivancos se tornaria um grande pintor espanhol.

Assinatura de Picasso
Ainda na década de 1940 Picasso voltou a se filiar ao Partido Comunista francês, e até mesmo participou de uma conferência de paz na Polônia. Mas quando o Partido começou a criticá-lo por causa de um retrato considerado insuficientemente realista de Stálin, o interesse de Picasso pelo Comunismo esfriou, embora tenha permanecido como membro do Partido até sua morte.
Guernica
Uma das obras mais conhecidas de Picasso é o mural Guernica, em exposição no Museu Nacional Centro de Arte Rainha Sofia, em Madrid. Retrata, da maneira muito peculiar do artista, a cidade basca de Guernica, após bombardeio pelos aviões da Luftwaffe de Adolf Hitler. Esta grande tela encorpora para muitos a desumanidade, brutalidade e desesperança da guerra.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Picasso continuou vivendo em Paris durante a ocupação alemã. Tendo fama de simpatizante comunista, era alvo de controles freqüentes pelos alemães. Durante uma revista do seu apartamento parisiense, um oficial nazista observou uma fotografia do mural Guernica na parede e, apontando para a imagem, perguntou: Foi você quem fez isso? E Picasso respondeu, após um segundo de reflexão: Não, vocês o fizeram..

Obra e períodos

Retrato de Picasso, de Amedeo Modigliani, c. 1915.
A obra de Picasso é muitas vezes classificada em períodos: Azul (1901–1904), Rosa (1905–1907), Africano (1908–1909), Cubismo Analítico (1909–1912) e Cubismo Sintético (1912–1919).
Antes de 1901
Seus primeiros trabalhos estão no Museu Picasso em Barcelona. Principais obras do período:
A Primeira Comunhão (1896), uma grande composição que mostra sua irmã, Lola.
Retrato da Tia Pepa
Período Azul
Consiste em obras sombrias em tons de azul e verde azulado, ocasionalmente usando outras cores. Desenhava prostitutas e mendigos e sua influência veio de viagens pela Espanha e do suicídio de seu amigo Carlos Casagemas. Ele pintou vários retratos de seu amigo, culminando com a pintura obscuramente alegórica de La Vie. O mesmo tom está na água-forte The Frugal Repast, que mostra um cego e uma mulher perspicaz, ambos emagrecidos, sentados perto de uma mesa vazia. A cegueira é um tema recorrente no período e está também em The Blindman's Meal e no retrato Celestina. Outros temas frequentes são artistas, acrobatas e arlequins. O arlequim se tornou um símbolo pessoal para Picasso.
Período Rosa
O Período Rosa (1905–1907) é caracterizado por um estilo mais alegre com as cores rosa e laranja, e novamente com muitos arlequins. Muitas das pinturas são influenciadas por Fernande Olivier, sua modelo e seu amor na época.
Período Africano
O Período Africano de Picasso (1907–1909) começou com duas figuras inspiradas na África em seu quadro Les Demoiselles d'Avignon. Idéias deste período levaram ao posterior Cubismo.
Cubismo analítico
É um estilo de pintura (1909–1912) que Picasso desenvolveu com Braque usando cores marrons monocromáticas. Eles pegaram objetos e os analisaram em suas formas. A pinturas de Picasso e Braque eram muito semelhantes nesse período.
Cubismo sintético
É um desenvolvimento posterior (1912–1919) do Cubismo no qual fragmentos de papel (papel de parede ou jornais) eram colados em composições, marcado o primeiro uso da colagem nas artes plásticas.
Classicismo e surrealismo
No período seguinte ao caos da primeira guerra mundial Picasso produziu obras em um estilo neoclássico. Este "retorno à ordem" é evidente no trabalho de vários artistas europeus na década de 20, inclúindo Derain, Giorgio de Chirico, e os artistas do New Objectivity Movement. As pinturas e textos de Picasso deste período frequentemente citam o trabalho de Ingres.
Durante os anos 30, o minotauro substituiu o arlequim como motivação que ele usou em seu trabalho. Seu uso do minotauro veio parcialmente de seu contato com os surrealistas, que normalmente o usavam como símbolo, e aparece em Guernica de Picasso.
Possivelmente o trabalho mais importante de Picasso é sua visão do bombardeamento alemão em Guernica, Espanha — Guernica. Esta pintura representa para muitos a brutalidade e desesperança da guerra. Guernica estava em exposição no museu de arte moderna de Nova York por vários anos. Em 1981 Guernica voltou para a Espanha e foi exibida no Casón del Buen Retiro. Em 1992 a pintura ficou em exposição no museu de Reina Sofia em Madri quando ele abriu.

Algumas obras do artista
Auto-retrato, 1899
Absinto (Rapariga no café), 1901
La mort de Casagemas (A morte de Casagemas), 1901
Evocation (L'enterrement de Casagemas) Evocação - O funeral de Casagemas, 1901
Mère et enfant - La Maternité - Mère tenant l'enfant (A Maternidade), 1901
Vieux guitariste aveugle (Velho guitarrista cego), 1903
Des pauvres au bord de la mer (Miseráveis diante do mar), 1903
La vie (A Vida), 1903
Mulher passando a ferro, 1904
Retrato de Suzanne Bloch, 1904
Auto-retrato com capa, 1905
Garçon à la pipe (Rapaz com cachimbo), 1905
Fernanda com um lenço preto, 1905-1906
Vasilhas, 1906
Mulher com leque, 1907
Jovem nu (Jovem rapaz com braços levantados), 1907
Les Demoiselles d'Avignon, 1907
Banho, 1908
Três Mulheres, 1908
Composição com crânio, 1908
Garrafa, jarra e frutas, Verão de 1909
Vaso sobre a mesa, 1914
Minotauro, bebedor e mulheres, 1933
Mulher loira, Dezembro de 1931
Guernica, 1937
Dora Maar au chat, 1941
O tomateiro, 7 de Agosto de 1944
Mulher sentada num cadeirão, 12 de Dezembro de 1960
Lagosta e gato, 11 de Janeiro de 1965
Arlequim com baton, 12 de Dezembro de 1969
Busto de mulher, 27 de Junho de 1971

O roubo de duas obras no Brasil
No dia 20 de dezembro de 2007, por volta das 5:00 horas da manhã, três homens invadiram o Museu de Arte de São Paulo (MASP), levando dois quadros considerados dos mais importantes do acervo: O lavrador de café de Cândido Portinari e Retrato de Suzanne Bloch de Pablo Picasso. O tempo para o roubo das duas obras de artes durou três minutos. O quadro foi recuperado dia 8 de janeiro de 2008 em Ferraz de Vasconcelos, Região Metropolitana de São Paulo, intacta. Dois homens foram presos.

B.B King





Riley Ben King, mais conhecido como B. B. King, (16 de setembro de 1925, Itta Bena, Mississippi) é um guitarrista de Blues e cantor estado-unidense. O "B. B." em seu nome significa Blues Boy, seu pseudônimo como moderador na rádio WDIA.
Começou por tocar, a troco de algumas moedas, na esquina da Igreja com a Second Street e chegou mesmo a tocar em quatro cidades diferentes aos sábados à noite. Hoje é um dos mais reconhecidos guitarristas de Blues da atualidade, sendo por vezes referido como o Rei do Blues. É bastante apreciado por seus solos, nos quais, ao contrário de muitos guitarristas, prefere usar poucas notas. Certa vez, B.B. King teria dito: "posso fazer uma nota valer por mil".
ÍndiceBiografia
Riley Ben King, mais conhecido como B. B. King, nasceu em uma plantação de algodão em 16 de setembro de 1925 em Itta Bena, perto de Indianola no Mississippi, Estados Unidos da América.
Teve uma infância difícil – aos 9 anos, o bluesman vivia sozinho e colhia algodão, trabalho que lhe rendia 35 centavos de dólar por dia. Começou por tocar, a troco de algumas moedas, na esquina da Igreja com a Second Street.
No ano de 1947, partia para Memphis, no Tennessee, apenas com sua guitarra e $2,50 dólares. Como pretendia seguir a carreira musical, a cidade de Memphis, cidade onde se cruzavam todos os músicos importantes do Sul, sustentava uma vasta competitiva comunidade musical em que todos os estilos musicais negros eram ouvidos.
Nomes como Django Reinhardt, Blind Lemon Jefferson, Lonnie Johnson, Charlie Christian e T-Bone Walker tornaram-se ídolos de B. B. King.
"Num sábado à noite ouvi uma guitarra elétrica que não estava a tocar espirituais negros. Era T-Bone interpretando "Stormy Monday" e foi o som mais belo que alguma vez ouvi na minha vida." recorda B. B. King, "Foi o que realmente me levou a querer tocar Blues".
A primeira grande oportunidade da sua carreira surgiu em 1948, quando actuou no programa de rádio de Sonny Boy Williamson, na estação KWEM, de Memphis. Sucederam-se atuações fixas no "Grill" da Sixteenth Avenue e mais tarde um spot publicitário de 10 minutos na estação radiofónica WDIA, com uma equipe e direcção exclusivamente negra. "King’s Sport", patrocinado por um tónico, tornou-se então tão popular que aumentou o tempo do transmissão e se transformou no "Sepia Swing Club".
King precisou de um nome artístico para a rádio. Ele foi apelidado de "Beale Blues Boy", como referência à música "Beale Street Blues", foi abreviado para "Blues Boy King" e eventualmente para B. B. King. Por mera coincidência, o nome de KING já incluia a simples inicial "B", que não correspondia a qualquer abreviatura.
Pouco depois do seu êxito "Three O'Clock Blues", em 1951, B. B. King começou a fazer turnês nacionais sem parar, atingindo uma média de 275 concertos/ano. Só em 1956 B. B. King e a sua banda fizeram 342 concertos! Dos pequenos cafés, teatros de "gueto", salões de dança, clubes de jazz e de rock, grandes hotéis e recintos para concertos sinfónicos aos mais prestigiados recintos nacionais e internacionais, B. B. King depressa se tornou o mais conceituado músico de Blues dos últimos 40 anos, desenvolvendo um dos mais prontamente identificáveis estilos musicais de guitarra, a nível mundial. O seu estilo foi inspirador para muitos guitarristas de rock. Mike Bloomfield, Albert Collins, Buddy Guy, Freddie King, Jimi Hendrix, Otis Rush, Johnny Winter, Albert King, Eric Clapton, George Harrison e Jeff Beck foram apenas alguns dos que seguiram a sua técnica como modelo.
Em 1969, B. B. King foi escolhido para a abertura de 18 concertos dos Rolling Stones. Em 1970 fez uma turnê por Uganda, Lagos e Libéria, com o patrocínio governamental dos E.U.A.

B. B. King (1989).
Começou a participar da maioria dos festivais de Jazz por todo o mundo, incluindo o Newport Jazz Festival e o Kool Jazz Festival New York, e sua presença tornou-se regular no circuito por universidades e colégios.
Em 1989 fez uma tournê de três meses pela Austrália, Nova Zelândia, Japão, França, Alemanha Ocidental, Países Baixos e Irlanda, como convidado especial dos U2, participando igualmente no álbum Rattle and Hum, deste grupo, com o tema "When Love Comes to Town".
Em 26 de Julho de 1996, B. B. King, aproveitando o fato de ter um concerto agendado para Stuttgart, deslocou-se propositalmente de avião até à base aérea de Tuzla, para atuar perante tropas da Suécia, Rússia, Bélgica e E.U.A., estacionadas na Bósnia num esforço conjunto de manutenção da paz. No dia seguinte, voou para a base aérea de Kapsjak, para nova atuação junto de tropas norte-americanas. B. B. King confessa: "Foi emocionante atuar para estes homens e mulheres. Apreciamo-los e queremos que eles saibam que têm o nosso total apoio na sua árdua tarefa de manutenção da paz."
B. B. King terminou 1996 com uma turne pela América Latina, com concertos no México, Brasil, Chile, Argentina, Uruguai e, pela primeira vez, no Peru e Paraguai. O "Rei dos Blues" totaliza mais de 90 países onde atuou até hoje.
Ao longo dos anos tem sido agraciado com diversos Grammy Awards: melhor desempenho vocal masculino de Rhythm & Blues, em 1970, com "The Thrill is Gone", melhor gravação étnica ou tradicional, em 1981, com "There Must Be a Better World Somewhere", melhor gravação de Blues tradicionais, em 1983, com "Blues'N Jazz" e em 1985 com "My Guitar Sings the Blues". Em 1970, Indianopola Missisipi Seeds concede-lhe o "Grammy" de melhor capa de álbum. A Gibson Guitar Co. nomeou-o "Embaixador das guitarras Gibson no Mundo".

Curiosidades
Uma das imagens de marca de King é chamar às sua guitarras o nome de "Lucille" - uma tradição que vem desde a década de 1950. No inverno de 1949, King se apresentou num salão de dança em Twist, no Arkansas. Com o intuito de aquecer o salão, acendeu-se um barril meio cheio de querosene no centro do salão, prática muito comum na época. Durante a apresentação, dois homens começaram a brigar e entornaram o barril que imediatamente espalhou chamas por todo o lado. Durante a evacuação, já fora do estabelecimento, King apercebeu-se de que tinha deixado a sua guitarra de 30 dólares no edifício em chamas. Voltou a entrar no incêndio para reaver a sua Gibson acústica, escapando por um triz. Duas pessoas morreram no fogo. No dia seguinte, soube que os dois homens tinham começado a briga devido a uma mulher chamada Lucille. A partir dessa altura, passou a a designar as suas guitarras por esse nome, para "se lembrar de nunca mais fazer uma coisa daquelas."
Quando foi perguntado a John Lennon sobre sua maior ambição, ele disse que era tocar guitarra como B.B. King.
BB King era considerado o melhor guitarrista do mundo por Jimi Hendrix.
Um anime japonês por nome Beck - Mongolian Chop Squad teve influências do bluesman B. B. King. Por vezes, ele é citado e ainda tem a guitarra "Lucille".

A guitarra
Iniciou utilizando uma Fender Telecaster
Passou a utilizar uma Gibson ES-335, modelo que foi substituído pela B. B. King Lucille, um modelo baseado na ES-345.
Uma das características de King é chamar às sua guitarras o nome de "Lucille" - uma tradição que vem desde a década de 1950.
No dia 19 de dezembro de 1997, apresentou Lucille ao Papa João Paulo II em um concerto no Vaticano.
No dia 5 de novembro de 2000, doou uma cópia autografada de Lucille para o Museu de Música Nacional, Estados Unidos da América.
Honras e prêmios
Em 15 de dezembro de 2006 o Presidente americano George W Bush prêmiou King com a Medalha Presidencial da Liberdade.
Em 2004, ele foi premiado como Ph.D honorário da Universidade de Mississippi e o Conservatório Sueco Real lhe premiou com o Prêmio de Música Polar, por suas contribuições significantes para o blues.
King foi agraciado com a Medalha Nacional de Artes, em 1990, nos Estados Unidos da América.
Ganhador de diversos Grammys de 1971 a 2006.

Discografia


Algumas músicas
"Three O Clock Blues" (originalmente a primeira música que levou B.B King ao sucesso)
"Why I Sing the Blues?"
"The Thrill is Gone" (em parceria com Tracy Chapman)
"Rock Me, Baby"
"No Body Loves Me But My Mother"
"Blues Funk"
"Dangerous Mood"
"Blues man"
Albuns
King of the Blues (1960)
My Kind of Blues (1960)
Live at the Regal (Live, 1965)
Lucille (B.B. King album)Lucille (1968)
Live and Well (1969)
Completely Well (1969)
Indianola Mississippi Seeds (1970)
B.B. King in London (1971)
Live in Cook County Jail (1971)
Lucille Talks Back (1975)
Midnight Believer (1978)
Live "Now Appearing" at Ole Miss (1980)
There Must Be a Better World Somewhere (1981)
Love Me Tender (B.B. King album)Love Me Tender (1982)
Why I Sing the Blues (1983)
B.B. King and Sons Live (B.B. King album)B.B. King and Sons Live (Live, 1990)
Live at San Quentin (1991)
Live at the Apollo (B.B. King album)Live at the Apollo (Live, 1991)
There is Always One More Time (1991)
Deuces Wild (album)Deuces Wild (1997)
Riding with the King (B.B. King and Eric Clapton album)Riding with the King (2000)
Reflections (B.B. King album)Reflections (2003)
The Ultimate Collection (B.B. King album)The Ultimate Collection (2005)
80 (album)B.B. King & Friends: 80 (2005)
One Kind Favor (2008)

Adultos: uma espécie em extinção

ADULTOS: UMA ESPÉCIE EM EXTINÇÃO
José Outeiral

Uma questão que tenho levado aos pais e professores é a importância da existência do papel (ou função) do “adulto” na família e na escola. O adulto assume responsabilidades, cuida e protege, serve de exemplo e estabelece limites para que as crianças e adolescentes possam se desenvolver sadiamente. Os adultos são os responsáveis pelo nascimento psíquico das crianças e adolescentes através da tradição (transmissão da cultura) e da autoridade. O bebê humano, como sabemos, de todos os “bebês mamíferos” é o que nasce em maior estado de desamparo, físico e psíquico, necessitando, portanto, de uma família que o cuide; uma família, evidentemente, composta também por adultos. Uma família não é uma “turma”, um grupo de adolescentes e crianças. Nossa personalidade para se constituir necessita de um Outro, um adulto, modelo de identificação. Os pais não são “amigos”, os pais são pais.

Crianças sempre existiram, é lógico, mas o conceito de infância, como período de desenvolvimento com direitos e necessidades específicas, surge em torno do século XVIII, com a Modernidade e o Iluminismo. A adolescência é bem mais recente; começa a se delinear no século XX, acompanhando o crescimento dos centros urbanos que ocorre neste período e com o ingresso crescente das mulheres no mercado de trabalho, dentre outros fatores. Até então a passagem da infância ao mundo adulto se dava rapidamente, através de alguns rituais de iniciação. Na cultura contemporânea ocorre um fenômeno singular: a adolescência avança sobre a infância e, inclusive, sobre o mundo adulto. A infância está sendo des-inventada, através, por exemplo, da erotização precoce das crianças (o leitor sabe que existe soutien, com enchimento, para meninas a partir dos cinco anos, assim como linhas de cosméticos para esta idade?), com a transformação das crianças em grandes consumidores (como eles influenciam as compras dos pais!) e com a des-invenção do brincar, quando o prazer é deslocado do brincar para a compra do brinquedo, depois da compra vem um grande tédio do qual escapam através de nova compra. Uma possibilidade para fugir do tédio é usar a violência. Não devemos esquecer que brincar vem do latim vinculum. Brincar significa criar vínculos e então a droga e a violência terão maior dificuldade de chegar até nossos filhos e alunos.

A Organização Mundial da Saúde define adolescência como compreendida entre 10 e 20 anos e o Estatuto da criança e do Adolescente como entre 12 e 18 anos. Hoje, entretanto, observamos crianças de 7 ou 8 anos com comportamento adolescente, contestando regras e com um forte interesse sexual. Mas a adolescência não está apenas invadindo a infância, mas também o mundo adulto! No mundo contemporâneo, ocidental e urbano, muitos adultos querem, ao menos, parecer adolescente. Surge então, já em dicionário, a palavra “adultescente”, contração de adulto+adolescente. Além dos adultescentes contamos também com os “kidadults”, adultos que agem e se vestem como se fossem crianças.

Com o progressivo “desaparecimento” da adultez faltam adultos com os quais crianças e adolescentes possam estabelecer identificações estruturantes e saudáveis. O que encontramos então são indivíduos onde predominam aspectos narcísicos, onde a impulsividade é alta e a capacidade de frustração é pequena, onde o pensamento concreto predomina sobre o abstrato, onde a palavra e substituída pela ação e onde a outra pessoa é, apenas, uma pessoa-coisa, não um sujeito. O ultimo censo do IBGE nos revela que a primeira causa de morte em nosso país de jovens é homicídio, a segunda acidentes e a terceira suicídio e só depois temos as mortes pelas doenças orgânicas. Na cidade de São Paulo a primeira causa de morte de meninos entre 5 e 15 anos é homicídio. No embate entre civilização e barbárie, esta última está com evidente vantagem.

Quem sabe solicitamos ao IBAMA que declare, assim como acontece com o mico-leão-dourado, o tatu canastra, a ararinha azul, o boto rosa e tantas outras espécie, que os adultos são também uma espécie em ameaça de extinção? O que escrevi faz algum sentido ao leitor?

Médico. Psiquiatra. Psicanalista, membro da Associação Internacional de Psicanálise. Ex-professor da Faculdade de Medicina da PUC-RS e autor de livros e trabalhos publicados no Brasil e no exterior.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

A psicologia das cores na arquitetura de interiores

A importância das cores na arquitetura de interiores e sua influência em nossas vidas são evidentes. De acordo com o arquiteto Jayme Bernardo, a cor é um dos principais fatores determinantes da forma como nos relacionamos com nosso ambiente e o que ele nos transmite. Nossa sensibilidade reage às cores de várias maneiras. São reações subjetivas e nossa sub-consciência percebe mínimos detalhes que as vezes passam desapercebidos pelo consciente. Cores quentes nos deixam alegres, passam energia, força, enquanto as cores frias acalmam e relaxam. Pessoas alegres e extrovertidas preferem usar cores quentes e claras e por isso buscam decorar a própria residência ou local de trabalho com as cores que se identificam. Pessoas tímidas e introspectivas buscam as cores frias e escuras.
Segundo o arquiteto Jayme Bernardo, devemos levar em consideração fatores culturais, modismos, idade, sexo e o meio em que se vive na hora de escolher as cores em um projeto arquitetônico.

A importância das cores na arquitetura de interiores e sua influência em nossas vidas são evidentes. De acordo com Jayme Bernardo, a cor é um dos principais fatores determinantes da forma como nos relacionamos com nosso ambiente e o que ele nos transmite. Em ambientes mais íntimos, como nos quartos, é possível imprimir os traços de personalidade com mais liberdade, tanto nas cores quanto no mobiliário. Vale a pena observar a influência da cor nesse ambiente.
Quarto de dormir é um local de conforto e tranqüilidade que deve proporcionar uma sensação de relaxamento. As cores devem ser suaves e sutis, em vez das contrastantes e nítidas. Cores pesadas devem ser evitadas. Já no quarto das crianças é recomendável cores da faixa do vermelho, laranja e amarelo, com a finalidade de criar um ambiente claro e luminoso. Acima dos 13 anos, as tonalidades mais claras do verde e do azul são geralmente preferíveis. Cores escuras devem ser evitadas. Deve-se prestar atenção na iluminação, a fim de atenuar o esforço visual durante a leitura. O quarto do casal exige um projeto de cores que se adapte a ambos. Evita-se cores vívidas ou escuras, a menos que o objetivo seja criar um ambiente vibrante ou muito forte. O arquiteto Jayme Bernardo dá preferência às tonalidades sutis e suaves, utilizando cores quentes e relaxantes.
Veja os significados das cores que grandes arquitetos como Jayme Bernardo seguem como referência em suas obras:
Vermelho - É quente, vivo, agressivo, sensual, estimula os instintos. Deve ser usado com moderação.
Laranja - Possui a luminosidade do amarelo e excitação do vermelho. Representa prosperidade.
Amarelo - Irradia luz, brilho, calor, vida, alegria, riqueza.
Verde - O verde é calmo, equilibra as emoções. É a cor que menos fadiga a vista, é o equilíbrio entre o calor e o movimento do amarelo e a estática e a frieza do azul.
Branco - É luz, pureza, limpeza, castidade, transmite uma sensação de paz, tranqüilidade de espírito, bem estar. É a presença de todas as cores.
Preto - Está associada à tristeza. Esses conceitos servem como parâmetros, na verdade deve se levar em consideração à aplicação. Exemplo: tamanho do objeto, textura, meio de aplicação.

FAMILIAS E CONTEMPORANEIDADE

José Outeiral
Membro Titular e Didata da SPP e Menbro Convidado da SBPRJ


Sumário
O autor realiza um recorrido sobre as questões familiares, nos aspectos culturais e psíquicos, considerando as transformações que atingem as famílias contemporâneas.




Vivemos hoje na época dos objetos parciais, tijolos estilhaçados em fragmentos e resíduos.
Deleuze

Uma breve contextualização inicial

Os textos onde Sigmund Freud aborda as questões relacionadas à cultura, especialmente aqueles escritos após a década de vinte, nos revelam uma preocupação crescente com os grupos, com a família e com a cultura. Ao definir em Mais além do princípio do prazer, por exemplo, a função da mãe como “escudo protetor” ele nos dá um dos inúmeros exemplos encontrados em sua obra da importância daquilo que Donald Winnicott conceituará como “ambiente facilitador”, a família e a sociedade.

É evidente que a psicanálise, centrada especialmente no complexo de Édipo e pelos acontecimentos pré-edípicos, é perpassada pelos acontecimentos emocionais, resultado da interação entre a realidade e a fantasia, ocorrida no âmbito do grupo familiar. Por outro lado, é oportuno não esquecer, como está escrito em um pé de página do Caso Dora, que Freud nunca abriu mão integralmente do trauma da sedução; o conceito de fantasia, que se seguiu a teoria do trauma da sedução não é incompatível com acontecimentos reais. A percepção da realidade, como sabemos, é, então, influenciada pelos avatares do desenvolvimento e dos processos maturacionais – a neurose infantil, por exemplo – ocasionando contatos tanto com objetos subjetivamente concebidos como com objetos objetivamente percebidos e propiciando um espaço de transicionalidade. Espaço este onde acontecem os objetos e fenômenos transicionais, terceiro espaço, espaço paradoxal, que não pertence nem ao bebê nem a mãe e, ao mesmo tempo, a ambos. Espaço que propicia o ingresso no Real. Espaço de repouso, de amorfia, do gesto espontâneo, da criatividade e da criação da cultura (Outeiral, 2003).

Sigmund Freud era um homem erudito, conhecedor da cultura, que viveu dentro de um contexto familiar específico: uma família judia pequeno-burguesa, na Viena do fin-du-siècle XIX e nas primeiras décadas do século XX. Seu olhar, como não poderia ser diferente, tem este viés. Seus biógrafos escreveram detalhadamente sobre este tema e é desnecessário que eu me estenda além desta breve observação.

É no conceito de desamparo, que considero de extrema significação na obra de Freud, tanto do ponto de vista teórico como clínico, que encontramos outra amarração que inevitavelmente nos leva a importância da família em seu pensamento. Donald Winnicott, freudianamente, escreveu que “não existe esta coisa de um bebê sem uma mãe”; eu acrescento, não sendo nada original, que não existe mãe sem pai e que mesmo a ausência deste é, paradoxalmente, uma presença marcante. Sigo a linha de pensamento de Donald Winnicott que ao escrever que não existe bebê sem mãe está também registrando que não existe mãe, nem bebê, sem pai, sem família. Até agora é provável que o leitor não tenha encontrado nenhuma novidade na leitura deste breve ensaio: peço um pouco mais de paciência. O que quero trazer é que Sigmund Freud deu, sim, importância não só ao mundo interno e à fantasia, mas reconheceu também a existência da mãe e do pai reais. Com a série complementar (1916) ele nos permite mais uma articulação do que escrevo. Na conhecida boutade de Donald Winnicott (o mais freudiano dos psicanalistas nascidos na Inglaterra, provoco), quando ele lembrou aos membros da Sociedade Britânica de Psicanálise que, a despeito das discussões que estavam sendo travadas, em torno das controvérsias Klein-Ana Freud, Londres estava sendo bombardeada naquele momento pelos nazistas. Ele registrou a importância do Real, reafirmando, assim, como sempre o fez, sua filiação freudiana. A família é Real: sua percepção, entretanto, nem sempre o é.

Pelo que escrevo quero gizar o óbvio: o ser humano depende em seu desamparo, físico e psíquico, aspectos que ele irá progressivamente integrando através da personalização, de um “ambiente facilitador” (“mãe suficientemente boa” ou “mãe devotada comum”) que se revele “suficientemente bom”. Vou poupar o leitor de uma “revisão da literatura” e falar de minha experiência clínica. Creio que agora posso seguir adiante, após ter trazido estas considerações.

A clínica do cotidiano

A clínica do cotidiano nos permite constatar que, efetivamente, uma série de paradigmas e valores de nossa Sociedade, circunstâncias que se mantiveram relativamente estáveis no decurso de várias gerações que nos antecederam, estão sendo contestados, modificados e, mesmo, substituídos por outros muito diferentes. Esta observação pode ser descrita como o “advento” da condição pós-moderna ( ou “...a lógica cultural do capitalismo tardio”, como define F. Jamelson), ou seja, a etapa intermediária entre o “esgotamento” da Modernidade e o período que a irá suceder e que não sabemos, exatamente, como será. Prefiro, entretanto, usar as expressões alta modernidade ou cultura contemporânea. Peço ao leitor que considere que as condições de nosso país dificultam a utilização da expressão condição pós-moderna, pois a Modernidade nem bem se instalou entre nós.

Na Sociedade humana, desde os seus primórdios, sempre foi assim: durante certo espaço de tempo, às vezes, abrangendo alguns séculos, uma série de elementos sociais, econômicos e culturais permanece aparentemente estável até que em um determinado momento, que poderá ocupar algumas gerações, ocorre uma “ruptura”, surgindo momentos de instabilidade, incertezas e mudanças bruscas, e após uma nova etapa se estabelece. Foi assim, por exemplo, ao final do Medievo, em torno dos séculos XV e XVI, quando a Modernidade começou a se estruturar.

Uma metáfora que costumo utilizar para dar maior nitidez ao que escrevo (valendo sempre lembrar, com W. Goethe, que “...a nitidez é uma conveniente distribuição de luz e sombra...”, ou seja, que não pretendo “explicar tudo” deixando ao leitor parte do trabalho) é o movimento das placas tectônicas. Estas placas, que formam a superfície terrestre, durante longos espaços de tempo, aparentemente (pois, na verdade, estão em constante movimento e gerando quantidades fantásticas de energia), parecem estar em repouso, até que o acúmulo de energia produz movimentos perceptíveis que denominamos terremotos e novas aparentes acomodações surgem então. Não esqueçamos que nosso continente era unido à África e era denominado de Pangéia. Estas novas acomodações darão lugar a novos terremotos e assim sucessivamente em um movimento contínuo. Com o desenvolvimento da sociedade humana acontece algo parecido: a Idade Média, como comentei antes, foi “estável” durante alguns séculos, ocorreu então um “terremoto” que perdurou algumas gerações, e se estabeleceu, então, a Idade Moderna.

É possível, pensam alguns autores, que estejamos vivendo um “terremoto” –a condição pós-moderna-, período de transição entre a Modernidade e o que a irá suceder...logo surge a pergunta sobre quais fatores provocam estas “mudanças”. Voltemos, por breves instantes e com uma lente de maior aumento, até à Idade Média, caracterizada, especialmente, pela estrutura feudal e por uma visão de mundo teológica. O desenvolvimento do comércio trazido pelas grandes navegações, o avanço do conhecimento científico sobre a interpretação teológica do mundo, a razão contra o misticismo, o desenvolvimento das cidades e do comércio (surgem os “burgos”, as cidades, muitas vezes cidades-estados, e os burgueses, uma nova classe social) provocam rupturas e mudanças. A invenção da imprensa (a descoberta de J. Gutemberg [1397-1468]) colocou o conhecimento obtido por meio de livros e da Bíblia – a primeira Bíblia impressa surgiu em 1454- ao alcance de muitos. O que antes era restrito ao trabalho dos monges copistas e que permanecia na posse da Igreja, originando transformações que o livro de Humberto Eco, O nome da rosa, relata de forma magnífica. São inúmeras as novas condições e na esteira deste processo surge a Reforma Protestante; enfim, um sem-número de fatores sociais, econômicos e culturais se modificaram. Houve um esvaziamento do Medievo nos séculos XV, XVI e XVII e o nascimento e o desenvolvimento da Modernidade. A Modernidade que é representada, por exemplo, pelo ideário da Revolução Francesa de 1779 –liberdade, igualdade e fraternidade- propiciou o surgimento da Revolução Industrial, a noção de Estado nacional, o respeito pelas leis constitucionais e pelo cidadão, uma ênfase sobre a razão e no conhecimento científico, o estabelecimento da “família burguesa”, configurando uma visão de mundo considerada como o Iluminismo, período das luzes, em oposição a chamada idade das trevas, a Idade Média.

Neste período um novo conceito de família a família burguesa, surge, como descreve Ph. Áries. A própria arquitetura doméstica se modifica, aparecendo a idéia de privacidade e, por exemplo, os quartos de dormir, o que não existia, praticamente, até então; todos costumavam dormir em uma mesma peça, adultos, crianças e visitantes ocasionais, próximos ao local das refeições, espaço aquecido. A privacidade está ligada a crescente noção de indivíduo; cada pessoa buscando, agora, uma individualidade, ser “diferente”, único: um sujeito.

O crescimento das cidades criou também os sobrenomes, os nomes-de-família, pois se nas pequenas aldeias todos se conheciam e a genealogia era sabida pela comunidade, na cidade era necessário nomear a família para dar identidade: o pescador passou a se chamar Johan Fischerman... ou o emigrante português, vindo ao Brasil no século XVIII, para lutar nas guerras cisplatinas, chamado Manuel e habitante da pequena Vila dos Outeiros, região de outeiros –morros- ao norte de Portugal e na região da Galícia, passou a ser chamado de Manuel Outeiral... O “al” acrescido pela influência moura de quase 900 anos de domínio na Ibéria. Uma consideração interessante é que quando o camponês começou a migrar para a cidade e necessitou de um outro nome, a expressão inglesa arcaica para tanto era “um eike name” (“um outro nome”), palavras que consignavam uma identidade. Quinhentos anos depois esta expressão deu origem a uma outra, “nickname”, apelido, que nos remete ao falso, ao fake do cyberespaço pós-moderno, algo que promove a descentralização e a descontextualização do sujeito e de sua identidade . Como sempre as palavras são reveladoras.

Esta passagem não se realizou sem “traumas”, mas sim através de “turbulências”, às vezes fraturas bruscas e outras numa suave découpage, que envolveu, muitas vezes, a violência: Nicolau Copérnico e Galileu Galilei são exemplos destes tempos de mudança. As novas idéias colocavam em risco os paradigmas e valores da época e muitos foram punidos, na verdade, na busca do Poder em banir as novas idéias laicas e o espírito científico que elas representavam. O conceito de W. Bion sobre mudança catastrófica nos auxilia a compreender, desde o social ao individual, o significado destas transformações.

Embora utilize, obviamente referenciais teóricos, quero dirigir minhas idéias e minha escrita pela clínica e pelo cotidiano de minha prática, que representa mais de três décadas de atividades como médico, psiquiatra e psicanalista com crianças, adolescentes e suas famílias. Não tenho o intento de estar construindo um paper ou ser um scholar, mas sim o de estar buscando interlocutores para discutir as experiências e buscar a síntese de um conjunto de idéias que possa ser capaz de realizar hoje.

Trago, agora, ao leitor algumas considerações sobre as transformações sofridas pelas famílias, depois de muitas gerações com uma aparente estabilidade.

O leitor deve considerar que neste recorrido histórico que faço, perpassado pela busca de compreender as estruturas familiares, busco, agora, falar das famílias contemporâneas.

Nos últimos cem anos a humanidade acumulou uma quantidade tal de novos conhecimentos como, talvez, nunca tenha acontecido antes. Foi possível filmar o primeiro vôo de um aparelho mais pesado que o ar, com Santos Dumont e o XIV Bis, em Bagatelle, e antes de completar um século filmar o homem pisando na lua. As possibilidades de comunicação tornaram-se fantásticas e a cibernética nos deu novas dimensões nos relacionamentos e na busca de informações. Os teóricos que estudam a pós-modernidade nos falam do apagamento da noção de sujeito, substituído pela pessoa-coisa, um gadget. Noção de sujeito, sujeito psíquico, tão cara à Modernidade. Estes autores comentam sobre o final da história. Referem sobre a fragmentação, da cultura da banalização e do descartável. Agora temos um hiper-corpo, constituído por próteses eletrônicas, que nos ligam, nos mantém on-line, em um mundo globalizado. Globalização que globaliza também o desejo. A cultura da banalização e do descartável é evidente. O tempo fast nos apresenta uma geração delivery. Enfim, não pretendo sobrecarregar o leitor com o já conhecido, mas colocar os fatos que nos auxiliarão a pensar melhor as condições do sujeito contemporâneo e das estruturas familiares que se constituem o seu “ambiente facilitador”, como escreveu Donald Winnicott.

Vejamos, então.

Na década de setenta (século XX) as questões familiares nos conduziam a refletir sobre a passagem da família patriarcal para a família nuclear. Devemos considerar nestas mudanças múltiplos fatores, dos quais quero referir dois. Primeiro o crescimento rápido e desordenado dos centros urbanos à custa de um intenso fluxo migratório vindo das zonas rurais, na década de 1940-50. O Censo Demográfico do IBGE, nesta ocasião, revelava que aproximadamente 30% da população vivia nas grandes cidades, enquanto 70% da população habitava pequenas cidades e no campo, situação que se inverte na passagem para o século XXI, quando 80% da população está nos grandes centros urbanos e apenas 20% nas zonas rurais e pequenas cidades. Em segundo lugar o ingresso da mulher no mercado de trabalho. A família patriarcal constituída por grupos familiares reunindo diversos graus de parentesco (avós, tios, primos, etc.), habitando espaços próximos e, muitas vezes, participantes de uma mesma atividade produtiva, oferecia à criança e ao adolescente uma rede familiar de proteção, no caso de dificuldades por parte dos pais, assim como um maior número de modelos para identificação (mais uniformes, coerentes e estáveis e pertencentes a uma mesma cultura). Este grupo familiar é próprio das zonas rurais e dos pequenos vilarejos do interior. Com a rápida migração para os grandes centros urbanos passamos a encontrar a família nuclear, constituída por um casal (ou somente pela mãe, em pelo menos um terço das famílias segundo o IBGE) e um ou dois filhos, longe do grupo familiar de origem, anônimos, desenraizados de suas culturas. Esta multidão, paradoxalmente, dá ao indivíduo desamparo e isolamento. Nas famílias mais pobres é geralmente a avó que se faz a cargo das crianças, estando os pais, ainda adolescentes, na vida das ruas. É exatamente nesta década que crianças e adolescentes passam a chamar de “tios” os adultos em geral e os professores em particular. Estes novos “tios” penso que representam uma tentativa de reconstituição de laços de parentesco, revelando uma esperança que permite sustentar, pelos menos por algum tempo, o desamparo. Crianças, adolescentes e seus pais em busca de uma família “perdida”.

Na década de oitenta as questões diziam respeito às novas configurações familiares: famílias reconstituídas, com filhos de casamentos anteriores e do novo casamento, tendo este fato social o reconhecimento com a lei do divórcio. Certamente em uma sala de aula, nas décadas anteriores, poucas crianças tinham os pais separados, enquanto hoje este é um fato comum. As questões relacionadas as perdas de vínculos passam a se tornar muito importantes. O conceito de tendência anti-social, de Donald Winnicott, resultado da deprivação (perda de um cuidado que foi experimentado) adquire muita atualidade. A “delinqüência” (do latim de-linkare, perda de vínculo), tendência anti-social que não encontrou atendimento, ocupa vários espaços sociais.

Nos últimos anos surge, então, uma série de diferentes configurações familiares. Cada criança, em uma sala de aula, traz uma experiência cultural familiar própria. O desenvolvimento tecnológico aporta muitas possibilidades para a concepção de um bebê, abrindo, por exemplo, a porta para as questões derivadas das famílias homoparentais. A mulher obtém, por desejo e/ou necessidade, uma definitiva inserção no mercado de trabalho e o tempo de convivência com os filhos se torna menor do que nas gerações anteriores. Berçários, creches e escolas infantis se tornam necessárias para pais que “terceirizam”, cada vez mais, os cuidados parentais. A função paterna é cada vez mais inexistente nos grandes centros urbanos.

Os Indicadores Sociais do ultimo censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos revelam que a primeira causa de morte entre 14 e 25 anos, em nosso país, se deve a homicídios, a segunda causa a acidentes e a terceira causa a suicídios e só depois temos as doenças orgânicas. Este período de desamparo e de banalização da violência em nossa sociedade revela uma encruzilhada entre civilização e barbárie que atinge de cheio as estruturas familiares. Muitos problemas de desenvolvimento e de sofrimento emocional passam por estas condições: as “patologias do vazio”, as “estruturas narcísicas”, os borderlines, o sentimento de “não-ser” e de “invisibilidade”, as adições a substâncias psicoativas e as adições a pessoas, entre outras condições, permitem pensarmos em “patologias da contemporaneidade”.

As identificações muitas vezes patológicas (nem todas as identificações, como sabemos, são estruturantes) atingem crianças e adolescentes. Estes últimos, buscando seu processo identificatório, como é natural, na sociedade, mais do que na própria família, encontram representantes sociais que não oferecem valores éticos e morais adequados. As desidentificações de identificações patológicas, parte do processo adolescente, não se dão adequadamente. Há um predomínio, então, de um ego ideal sobre o ideal de ego. O primeiro mais ligado ao narcisismo, ao pensamento concreto e com uma capacidade de simbolização incipiente e não reconhecendo adequadamente o “outro”, predomina sobre o segundo, em geral, menos narcísico, reconhecendo e respeitando o “outro” e com predomínio do pensamento abstrato e da capacidade de simbolizar. Em outras situações encontramos um ideal de ego punitivo, sádico e destrutivo como soe acontecer em muitas situações emocionais adversas. É possível se dizer, parodiando Freud que onde “existe ego ideal deveria existir ideal de ego”. O desamparo nas etapas iniciais do desenvolvimento e dos processos de maturação, a falência da função paterna e as identificações patológicas respondem, dentre outros fatores, por estas condições. Há dificuldades no estabelecimento de limites, entendidos aqui como holding ou função continente. Holding, não esqueçamos, é espaço e limite, elemento feminino puro, “ser”, e também, necessariamente, elemento masculino puro, “fazer”. Sem estes elementos a capacidade de pensar está prejudicada e teremos a descarga de impulsos diretamente na ação, sem intermediação do pensamento: comunicação pela ação, agir para sentir-se vivo. Em lugar do “penso logo existo” de Descartes temos o “ajo logo existo” ou “mato logo existo”. Estes acontecimentos atingem os jovens de diferentes classes sociais.

O leitor, talvez, pensará que estou muito trágico, a despeito dos dados de morte de jovens pelo IBGE. Mas sabe o leitor de que morrem meninos entre cinco e quinze anos na cidade de São Paulo? Homicídio é a causa da morte deles. Não esqueçam que a história do homem avança numa circular ascendente onde se alternam civilização e barbárie.

Quero agora, dando continuidade as idéias sobre as famílias contemporâneas, de nossos centros urbanos, escrever sobre algumas outras questões relacionadas às crianças e aos adolescentes. A organização Mundial da Saúde reconhece a adolescência como o período compreendido entre dez e vinte anos e o Estatuto da Criança e do Adolescente como o período compreendido entre doze e dezoito anos. Pois nas famílias contemporâneas é possível reconhecer que a adolescência inicia, muitas vezes, antes dos dez anos e se prolonga muito além dos vinte anos, em outras tantas.

Não sou um “filósofo de poltrona”, como escreve Donald Winnicott. Ele nos adverte, em O brincar e a realidade, contra esta postura que evitando o empirismo se lança na teorização distanciada da clínica. Vou escrever sobre o que experiencio, desde que atendi, em 1971, meus primeiros três pacientes adolescentes, sob a supervisão de Luiz Carlos Osório, Eduardo Kalina e Luis Prego-Silva. Como nosso tema é família é por aí que convido o leitor a uma interlocução.

Na década de setenta, generalizando, a criança se tornava púbere (fenômeno biológico) e, então, adolescia (acontecimentos psico-sociais). Na década de oitenta a puberdade e adolescência eram observadas concomitantemente. Nos últimos anos observo uma conduta adolescente (interesse pela sexualidade genital, contestação das normas e combinações da família e da escola, preocupação exagerada pelo corpo, etc.) em indivíduos ainda não púberes, antes dos dez anos, com sete ou oito anos. Penso, inclusive, e não vejo originalidade nisto, que o conceito de infância, como período de desenvolvimento com direitos e necessidades específicas, estabelecido pelo Iluminismo, sofre o risco de profundas transformações. Alguns autores refém sobre a “desinvenção da infância” inclusive, sobre a “desinvenção do brincar”. Temas a serem desenvolvidos em um outro momento. Há algumas décadas se transitava da infância ao mundo adulto através de alguns rituais de iniciação e em um curto espaço de tempo. Com o desenvolver da adolescência, a partir da metade do século passado, com esta invadindo a infância e o mundo adulto, temos a adolescência não só como período de desenvolvimento, mas, também, como um estilo de vida nas sociedades urbanas contemporâneas. É a “adultescência”, contração de adulto e adolescente, palavra que consta no Dicionário Oxford. Temos também os kidadults, adultos que abandonam sua posição e passam a agir de uma forma infantil. Assim, poderemos considerar o risco, fazendo uma brincadeira, de que os adultos correm o risco de se transformarem em uma espécie em extinção, assim como o tamanduá-bandeira e o boto-rosa... Observo, por exemplo, e não é raro, nas escolas, o “desaparecimento” dos adultos A falência das funções de adulto origina, é óbvio, severos problemas ao desenvolvimento das crianças e dos adolescentes e profundas transformações nos papéis familiares.

O período de latência, por exemplo, sofre com estas novas condições. È sobre ele que a adolescência lança sua “turbulência”, antes que exista uma mente capaz de lidar com as questões desta etapa. Abortada ou invadida a latência deixa de cumprir suas tarefas tão essenciais ao desenvolvimento.

Necessitamos então falar em famílias e sustentar, frequentemente, um não saber sobre elas.

Arremate

Minha intenção é convidar o leitor a realizar algumas reflexões sobre as diferentes configurações e possibilidades que envolvem as questões familiares. Não busco a linearidade ou a estrutura acadêmica. Escrevo como se estivesse falando. Espero que o leitor, durante a leitura, construa seu próprio texto; que traga suas idéias e expresse suas discordâncias. O que escrevi deverá ficar numa curva do caminho.

Bibliografia
Outeiral, J. Adolescer. Revinter. Rio de Janeiro. 2003