terça-feira, 27 de janeiro de 2009

"OS CIGARROS QUE FUMAM A GENTE"

A melhor coisa que há no mundo não existe: é o mundo mágico. Eu já sei que no mundo acadêmico ninguém diz acreditar em mágica, mas temo que uma declaração como essa seja mais ou menos como aquelas outras que, vez por outra, ouvimos de algum inconsciente por aí: "aquela moreninha" (quando a pessoa quer dizer "negra"), ou "nós somos de centro" (quando a pessoa quer dizer "de direita"). Da mesma maneira que não ser negro nem de direita é bom no contexto racista e hipócrita do nosso banal cotidiano, não se pode pensar que se a melhor coisa do mundo é a mágica, alguém em sã consciência possa mui facilmente dizer "eu não acredito em mágica" e ao mesmo tempo seja realmente cético.
Ser cético é não somente terrível para a sobrevivência, pois deve levar facilmente à passividade e à abulia, mas eu apostaria todas as minhas fichas coloridas de que é impossível, conseqüentemente, sê-lo. Não quero discutir o ceticismo, a sua impossibilidade é apenas um pressuposto para o que pretendo dizer aqui, que é o meu ceticismo com relação ao mundo desencantado. Mas, atenção leitor: não há contradição nos meus próprios pressupostos. Eu apenas não acredito no ceticismo passivo, o que é, por outra parte, uma forma de ativo ceticismo (coisa completamente diferente).
Acredito, por exemplo, que o enorme sucesso da farmácia dos distúrbios emocionais se deve ao fato de o mundo ser, precisamente, encantado. Se fôssemos seres não vibráteis, se não tremêssemos diante da presença musical do outro, se pudéssemos agir maquinicamente, a psiquiatria não estaria como agora, incomodando a medicina. Psiquiatria e psicofarmacologia são parasitas da nossa imprevisibilidade constitucional, o fator x que nunca permite haver uma medicina completa, isto é, sem a psiquiatria.
Acreditar em mágica é estar em harmonia com o mundo encantado, é situar-se de acordo com a familiaridade e a cotidianidade da nossa existência mais fútil e mais banal, é acomodar-se no colo quente da pessoa amada e sentir-se completamente em casa. Como acreditar que alguém diga que não acredita nas coisas que faz - e que, se não faz, daria tudo para estar fazendo?
O encantamento explica-se, se não quisermos ser metafísicos, por um truque lingüístico: a formação de sentidos. Não sei por que razão nós, seres humanos, não podemos deixar de ordenar o mundo, de dar sentido a tudo que experimentamos, assim como não podemos nos recursar a utilizar objetos como instrumentos úteis a todos os fins, e a ocupar-nos de alguma forma com o outro. Freud, que pretendia ser científico, julgava ter a resposta deste modo de ser numa força psíquica interna de origem orgânica chamada "pulsão". Porém esta palavra é metafísica, ela não tem a menor justificação empírica. Para além da própria ocupação com o mundo e as suas coisas, para além da própria formação de sentidos nos usos que fazemos dessas coisas do mundo e da maneira como entramos em relação com os outros, não há, me parece, qualquer fundamento nem explicação.
Isto posto, temos que reduzir-nos às nossas limitações humanas e tentar explicar a mágica sem nenhum truque de prestidigitação intelectual. Neste plano dos acontecimentos, eu diria que a mágica é nada mais que um apego tão extremo a um determinado sentido que sobrevive até mesmo às contradições mais flagrantes, segundo a realidade consensual que o próprio crente compartilha. Aquilo que todo mundo, inclusive o crente, acredita ser o real fica divergente daquilo que ele faz ou diz que crê. Um exemplo típico desta atitude podemos encontrar em situações de morte de entes queridos. A alguém que morreu de morte súbita e inesperada, não demoramos a ouvir a declaração "não terá sido em vão", ou "nada é por acaso", ou inclusive a frase ainda mais ousada "foi porque Deus quis". Isto não é ouvido da boca de um clérigo ou espiritualista militante, mas de gente que vive como se Deus ou a realidade transcendente não existissem. Essas entidades abstratas só aparecem ali, naquela hora, como ferramentas úteis para consertar o vazamento hidráulico ou para obturar o rombo no casco do navio. A falta de sentido nestes casos é tão grande, que essas crenças são facilmente flagradas como tapa-buracos. Flagramos não só a aposição de sentidos ao inexplicável como tapa-buracos, como também a própria insuportabilidade da falta de sentido; o que, por conseguinte, explica todas as crenças mágicas: "tenho um sexto sentido me dizendo que vou passar na prova", "eu sei que ele(a) me ama", "um dia tudo vai melhorar", "nós venceremos", são maneiras de suplantar a instabilidade do mundo.
Temos então essas duas condições do encantamento: a falta de sentido e, como contraposição, o apego ou a resistência dos sentidos. Posso chamar ao primeiro de "angústia" e ao segundo de "imaginário". Viver no equilíbrio entre a angústia, insuportável, e o imaginário, equivocado, é uma arte dificílima, exigiria uma sorte de desprendimento comprometido, uma alegria intensa e desobrigada, uma consciência de liberdade e um sentido ético cuja ocorrência é tão rara quanto preciosa. A maior parte do tempo nos metemos em tremendas confusões emocionais ou então agimos irracionalmente, como operários-padrões do horror ao intolerável. É dessa forma que aparecem os cigarros que nos fumam, não os cigarros que fumamos; os amores que nos têm, não os amores que temos; o dinheiro que nos controla, não o controle que temos do dinheiro; a religião que nos possui, não a que possuímos. Todos os auto-enganos mediante os quais esperamos iludir e aplacar nossa consciência. Por
vezes a contradição entre angústia e imaginário, ou horror e segurança, é tão grande que surgem curto-circuitos em forma daquilo que os psicanalistas chamam de surtos psicóticos, fobias, paralisias histéricas ou compulsões obsessivas.
É curioso o fato de que gostamos tanto de ter amigos, por ser sofrida a solidão, que passamos a freqüentar sempre as mesmas pessoas de todos os dias, e, em pouco tempo, adotamos imperceptivelmente um comportamento tribal. Vejo sempre em festinhas por aqui como geralmente as pessoas estão conversando e se divertindo entre si sem jamais se misturar ou se perder entre desconhecidos, apesar do evento ser, como diz o nome, uma "festa". Às vezes o medo ao desconhecido é tão grande que a pessoa mal consegue disfarçar a rigidez corporal quando é surpreendida pelo estranho. Tem gente que louva o comportamento tribal, mas é inegável que ele se faz ao preço do apagamento da diferença da subjetividade, em prol, é claro, da segurança interna que brinda a identidade social.
A mágica, o comportamento tribal, o patriotismo cego, o fundamentalismo e as relações amorosas infelizes são todas filhas da mesma condição humana. O mais comum entre nós é preferir a segurança do mundinho estreito e monótono a arriscar-se no mar furioso da liberdade. No entanto, o preço da segurança às vezes também é cancerígeno e mortal.


João José R. L. Almeida

domingo, 25 de janeiro de 2009

ECLESIÁSTICO 6;1-17

ECLESIÁSTICO 6

1 A má fama atrai a vergonha e o desprezo, e essa é a sorte do pecador que não tem palavra. 2 Não seja vítima de sua própria paixão, para que ela não o despedace como touro furioso. 3 Ela poderá devorar as folhas que você tem, e lhe fará perder os frutos, deixando-o como árvore seca. 4 A paixão violenta destrói quem a possui e o transforma em zombaria diante dos inimigos. A amizade verdadeira -* 5 Palavras afáveis aumentam os amigos, e fala amável encontra acolhida. 6 Tenha muitos conhecidos, mas um só confidente entre mil. 7 Se você quiser um amigo, coloque-o à prova, e não vá logo confiando nele. 8 Porque existe amigo de ocasião, que não será fiel quando você estiver na pior. 9 Existe amigo que se transforma em inimigo, e envergonhará você, revelando suas coisas particulares. 10 Existe amigo que é companheiro de mesa, mas que não será fiel quando você estiver na pior. 11 Quando tudo correr bem, ele estará com você, mas quando as coisas forem mal, ele fugirá para longe. 12 Se você for apanhado pela desgraça, lhe dará as costas e se esconderá de você. 13 Mantenha-se longe de seus inimigos e seja cauteloso com os amigos. 14 Amigo fiel é proteção poderosa, e quem o encontrar, terá encontrado um tesouro. 15 Amigo fiel não tem preço, e o seu valor é incalculável. 16 Amigo fiel é remédio que cura, e os que temem ao Senhor o encontrarão. 17 Quem teme ao Senhor tem amigos verdadeiros, pois tal e qual ele é, assim será o seu amigo.

Bíblia Sagrada - Ed. Patoral

sábado, 24 de janeiro de 2009

Somatizar

O CORPO EXISTE ?


A primeira coisa que constitui o ser atual da alma humana não é senão a idéia de uma coisa singular existente em ato. II, P9
Tudo o que acontece no objeto da idéia que constitui a alma humana deve ser percebido pela alma humana ; em outras palavras, a idéia dessa coisa existirá necessariamente na alma. Se o objeto da idéia que constitui a alma humana é um corpo, nada poderá ocorrer com esse corpo que não seja percebido pela alma. II, P12
Baruch Spinosa, Livro II da Ética

Não é à consciência que o sujeito está condenado, mas ao corpo.
J, Lacan



É lógico que como corpo físico, que ocupa um lugar no espaço e é atraído pela força de gravidade, o corpo existe. O corpo sob o ponto de vista biológico, que apresenta as características gerais dos seres vivos, tanto animais como vegetais, também existe.

Maimônides, o médico e filósofo judeu do século XII, poderá nos auxiliar com seus comentários. Ele escreveu:

Seria errado admitir que a pessoa teria estes órgãos em vão. Deus nos livre que Ele tenha criado alguma coisa sem propósito. Porque se uma pessoa tivesse uma boca, um estômago, um fígado e órgãos sexuais, mas não comesse, não bebesse e não procriasse, então teria sido sua existência absolutamente vã.



Feito à imagem e semelhança de Deus, o corpo humano é postulado desde o início do texto bíblico como um território do sagrado ( Gn 1,26 ). Não se trata apenas de um monte de órgãos, vísceras, fluidos e funções. Na língua hebraica todas as partes do corpo humano são hipostasiadas e dotadas de atributos psíquicos e espirituais. Cada parte do corpo humano leva em si mesma uma consciência do verdadeiro Eu e de sua unidade. É a hipostasis grega, a Pessoa, única e irrepetível, ícone divino, criado ao son do Verbo e na ressonância de seu Nome. ( Emmanuel Levinas, L´hypostase Le temps et láutre, 1979 ; Miranda O corpo. Território do sagrado ) A consciência corporal é hipóstase quando e sempre o existente coloca-se em relação com seu existir.


A pergunta que dá título ao texto é, evidentemente, uma provocação e um convite para uma reflexão sobre a existência do corpo da pessoa total, ou whole person como conceituou Donald Winnicott ( DWW ). Talvez possamos concordar, desde logo, de que este corpo da pessoa total existe sim mas, paradoxalmente, também deixa de existir – como entidade isolada – para fazer parte de uma unidade, uma integração, ou realização, e que em determinadas situações adversas esta trama psicossomática poderá não se constituir e/ou deixar de existir. Surgem, então, diversas questões: vejamos algumas delas.

DWW

A pessoa total é uma realização, um going-on-being, ligada ao desenvolvimento do self, dependente da constituição e do ambiente, e resulta da integração do psique-soma.

É necessário retomar alguns conceitos que DWW nos oferece no clássico trabalho A mente e sua relação com o psique-soma ( 1949 ).

1. O conceito de psique

... a palavra psique significa a elaboração imaginativa de partes, sentimentos e funções somáticas, isto é, da vivência física ... o indivíduo, no entanto, não a sente a psique como estando localizada no cérebro ou em qualquer outro lugar

2. O conceito de mente

... o esquema corporal, com seus aspectos temporal e espacial, fornece uma exposição valiosa do diagrama que o indivíduo tem de si mesmo e acredito que dento dele não haja um lugar óbvio para a mente ... a mente existe como uma função do psique soma...

3. Alguns comentários sobre o conceito de psique-soma

Penso que podemos introduzir o conceito de psique-soma referindo um trecho da autobiografia de DWW, que ele intitulou Not less everyting, a partir de um poema de T. S. Eliot, onde ele descreve imaginativamente sua morte

Estive morto.
Não era particularmente agradável e me pareceu que levou um bom tempo ( porém apenas um momento na eternidade ). Chegado o tempo eu sabia tudo sobre um pulmão cheio de água. Meu coração não conseguiu fazer seu trabalho, pois o sangue já não podia circular livremente pelos alvéolos. Havia falta de oxigênio e asfixia. Não havia porque ficar revolvendo a terra, como dizia nosso velho jardineiro. Minha vida foi longa. Vejamos um pouco do que aconteceu quando morri ? Meu pedido havia sido ouvido ( Meu Deus, faz com que eu viva o momento de minha morte ! ).

Clare Winnicott, sua espôsa, a partir deste trecho, comenta que se pode Ter uma idéia da capacidade de DWW para compor, brincando com a realidade de dentro e de fora, criando um espaço transicional, de modo a permitir ao indivíduo suportar a realidade da vida, evitando a negação e podendo realizar tão plenamente quanto possível a experiência da vida ( o existir e o ser, o verdadeiro self, o gesto espontâneo e a criatividade ) . Realizar este viver criativo que pode ser tanto o nascimento de um bebê como a morte que colhe um velho. A integração do psique-soma busca permitir esta experiência do viver criativo.

O conceito de personalização é utilizado por DWW para descrever a trama psicossomática, ou seja, “ a psique residindo no soma “.

Em um trabalho intitulado The theory of the parent-infant relationship ( 1960 ), DWW escreve:

A base para este residir é a vinculação de uma experiência motora, sensorial e funcional, com o novo estado de “ ser uma pessoa “ para o bebê. Como um desenvolvimento ulterior surge o que poderia ser chamado uma membrana limitadora, que, em certo grau ( na saúde ) pode ser equiparada à superfície da pele e assume uma posição entre o self e o não-self do bebê. Dessa forma o bebê passa a Ter um dentro e um forma o significado se apega a função de incorporar e de expelir; além do mais, gradualmente se torna significativo postular uma realidade psíquica pessoal, ou interna, para o bebê.


Madeleine Davis e Davis Walbridge, em seu livro Boundary and space: na introduction to the work of. D. W. Winnicott ( 1981 ) escrevem que a maioria das pessoas aceita a trama psicossomática sem discussão, mas DWW a percebeu como uma realização ( being-a-person ) : ela representa um desenvolvimento a partir das “ etapas iniciais nas quais a psique imatura ( embora fundamentada no funcionamento somático ) ainda não está intimamente vinculada ao corpo e à vida do corpo “. Devemos considerar que mesmo que depois do estabelecimento da trama psicossomática, ou da personalização, pode haver períodos nos quais a psique perde contato com o corpo.

DWW ( The first year of life: modern views on the emotional development, 1958 ) escreve :

Pode haver fases nas quais não é fácil para o bebê retornar ao corpo, como, por exemplo, ao acordar de um sono profundo. As mães sabem disso e acordam gradualmente o bebê antes de levantá-lo para não causar os berros de terror ou pânico que podem ser motivados por uma mudança de posição do corpo em um momento em que a psique está ausente dele. Clinicamente associada a esta ausência de psique, pode haver palidez, ocasiões em que o bebê está suando e talvez esteja muito frio, e também podem ocorrer vômitos. Nesse momento a mãe pode pensar que seu bebê está morrendo, mas, quando o médico chega, houve um retorno à saúde normal e ele é incapaz de entender porque a mãe ficou assustada.

A personalização ou a organização da trama psicossomática, não significa apenas que a psique está colocada no corpo ou na cabeça, mas também que a medida que, finalmente, o controle se amplia, o corpo todo se torna residência do self.

Em Primitive emotional development ( 1945 ), DWW descrevendo a questão referida antes ( da localização do self no corpo ) nos relata a situação de uma paciente psicótica que descobriu na análise que vivia dentro de sua cabeça a maior parte do tempo, atrás dos olhos. Via através dos olhos como se estivesse vendo através de panelas e não sabendo, portanto, o que faziam seus pés, apresentando como consequência a tendência a cair em buracos e tropeçar nas coisas. Não tinha “ olhos nos pés “. Não sentia a própria personalidade como localizada no corpo, que era uma máquina complexa que ela tinha de dirigir com habilidades e cuidados conscientes.

A situação descrita por DWW, se pensarmos em termos psicanalíticos e seguindo ao que S. Freud escreveu em Neurose e psicose , não nos será, talvez, totalmente estranha: alguém terá sonhado que uma parte de si mesmo sai do corpo, flutua no espaço e é capaz de observar o corpo deitado, inerte. Os mecanismos primitivos do sonho nos fazem experimentar a dissociação psique-soma ... Em situações extremas, como em alguns adolescentes regressivos e com estados de mente primtivos, a exposição do corpo ao perigo e a morte não significa, necessariamente, a morte “ da alma “. O fato de que acidentes e suicídios estão em segundo e terceiro lugar nas causas de morte de adolescentes pode se dever, entre muitos outros fatores a este aspecto.

É importante, agora, estabelecer a articulação entre os conceitos de psicossomática e de psique-soma, termos que, embora estejam dispersos em inúmeros trabalhos de DWW, estão mais desenvolvidos em dois textos básicos: The mind and its relation with psique-soma ( 1949 ) e Psycho-somatic illnes in its positive and negative aspects .

Neste último trabalho DWW considera que este estado patológico é uma organização de defesas com determinantes muito poderosas e que por este motivo é muito comum que médicos “ com boa intenção e boa formação e, inclusive, com equipamentos muito modernos “, fracassem em curar seus pacientes psicossomáticos. Uma forma médica de reagir a este fracasso é realizar um estudo teórico ( não clínico ) do assunto.

DWW considera que a dissociação é um mecanismo de defesa básico e intenso nestes pacientes e lembra, brincando, que os terapeutas da psicossomática se orgulham de sua capacidade de montar dois cavalos de uma vez, com um pé em cada uma das selas e com as rédeas de ambos em suas mãos. Terminam, entretanto, após algum tempo, sem saber em que estão pisando e com que rédeas estão nas mãos e acabam por cair dos cavalos. Neste mesmo trabalho ele retoma a questão da personalização e enfatiza o elemento positivo da defesa psicossomática ( que ele observa também na tendência anti-social ).

DWW comenta:

A enfermidade psicossomática, da mesma forma que a tendência anti-social, tem seu lado positivo enquanto o paciente está em contato com a possibilidade de uma unidade psicossomática ( ou personalização ) e de dependência, ainda quando sua condição clínica ilustre ativamente o contrário mediante a cisão, dissociações várias, e através de uma tentativa persistente de dividir e separar a atenção médica, e por meio de um onipotente cuidado de si mesmo .

Em relação ao psique-soma ( 1949 ) DWW comenta que o esquema corporal, com seus aspectos temporal e espacial, fornece uma exposição valiosa do diagrama que o indivíduo tem de si mesmo, mas ele também acredita que no corpo ( ou no esquema corporal ) não há um lugar próprio para a mente . Para ele a mente não existe como uma entidade, mas sim como uma função do psique-soma.

Quando o psique-soma atravessa satisfatoriamente os estágios mais antigos do desenvolvimento, a mente não existe como uma entidade no esquema de coisas deste indivíduo, não sendo mais que um caso especial do funcionamento do psique-soma.

Durante o desenvolvimento normal, ou nos processos patológicos, a mente pode funcionar como uma falsa entidade e com uma falsa localização. Para DWW o uso de palavras como físico e mental nos causa vários problemas, mas não temos uma palavra adequada para nos referirmos às doenças psicossomáticas . Na verdade temos um corpo e não devemos distinguir entre psique e soma, exceto de acordo com a direção em que se está se observando. Para DWW, psique é, vale retomar, a elaboração imaginativa de partes,sentimentos e funções somáticas.

A mente se constitui, desta forma, uma função do psique-soma. A teoria da mente formulada por DWW se baseia no trabalho analítico com pacientes que regridem a um nível extremamente primitivo na transferência.

DWW diz que a saúde leva , nos estágios emocionais inciais, a uma continuidade de existência, O psique-soma se desenvolve a partir de uma linha de desenvolvimento, contanto que a continuidade de existência não seja perturbada, o que cria a necessidade de um aambiente facilitador ( uma mãe suficientemente boa, uma mãe devotada comum ). Este meio ambiente facilitador se adapta, tanto quanto possível, às necessidades do psique-soma recém formado. Assim, de acordo com esta maneira de pensar, no desenvolvimento de todo o indivíduo, a mente tem uma raiz na necessidade que o indivíduo tem, e que se encontra no cerne de seu self, de um ambiente “ perfeito “.


Bilbiografia

Davis, M. & Wallbridge, D. Limite e espaço. Imago. Rio de Janeiro. 1982
Winnicott, D. Explorações psianalíticas. Artes Médicas. Porto Alegre. 1989
Winnicott, D. O processo maturacional e o desenvolvimento do indivíduo. Artes Médicas. Porto Alegre. 1965
Winnicott. A natureza humana. Imago. Rio de Janeiro. 1990
Winnicott, D. The privacy of the self. IUP. N.Y. 1974

aNota .Em uma discussão realizada em 17 de março de 1943 sobre o trabalho de Susan Isaacs, “ A Natureza e a função da fantasia, durante as controvérsias na Sociedade Britânica de Psicanálise, E. Glover faz um comentário que me parece interessante.

(... ) penso que boa parte da discussão da relação entre a realidade psíquica e a externa deve estar ligada a algumas dificuldades inerentes ao sistema kleiniano. A afirmação clara de Freud de que os derivados pulsionais são representacionais e afetivos inclui especificamente a percepção de expressões sensoriais ( somáticas ) de afeto, sejam estas expressões derivadas de afetos primários ou de afetos “ reativos “ secundários. Como disse antes, o mundo externo, por exemplo, as montanhas do Himalaia, no sentido psíquico, não é algo espacialmente fora da mente. É uma percepção cujos traços mnêmicos se encontram na psiquê. Mas nem as montanhas do Himalaia, nem a percepção psíquica delas, nem a catexia do sistema de traços mnêmicos do Himalaia constituem uma fantasia.

( Este comentário está inserido entre uma ampla discussão que antecedeu e sucedeu a intervenção de E. Glover. ).

J.Outeriral

"Definitivo"

Definitivo, como tudo o que é simples. Nossa dor não advém das coisas vividas, mas das coisas que foram sonhadas e não se cumpriram. Sofremos por quê? Porque automaticamente esquecemos o que foi desfrutado e passamos a sofrer pelas nossas projeções irrealizadas, por todas as cidades que gostaríamos de ter conhecido ao lado do nosso amor e não conhecemos, por todos os filhos que gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,por todos os shows e livros e silêncios que gostaríamos de ter compartilhado, e não compartilhamos. Por todos os beijos cancelados, pela eternidade. Sofremos não porque nosso trabalho é desgastante e paga pouco, mas por todas as horas livres que deixamos de ter para ir ao cinema, para conversar com um amigo, para nadar, para namorar. Sofremos não porque nossa mãe é impaciente conosco, mas por todos os momentos em que poderíamos estar confidenciando a ela nossas mais profundas angústias se ela estivesse interessada em nos compreender. Sofremos não porque nosso time perdeu, mas pela euforia sufocada. Sofremos não porque envelhecemos, mas porque o futuro está sendo confiscado de nós, impedindo assim que mil aventuras nos aconteçam, todas aquelas com as quais sonhamos e nunca chegamos a experimentar. Por que sofremos tanto por amor? O certo seria a gente não sofrer, apenas agradecer por termos conhecido uma pessoa tão bacana, que gerou em nós um sentimento intenso e que nos fez companhia por um tempo razoável,um tempo feliz. Como aliviar a dor do que não foi vivido? A resposta é simples como um verso: Se iludindo menos e vivendo mais!!! A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta que nada arrisca, e que, esquivando-se do sofrimento,perdemos também a felicidade. A dor é inevitável. O sofrimento é opcional...
Carlos Drummond de Andrade

"O pensamento tem poder"

Pensa! O pensamento tem poder. Mas não adianta só pensar. Você também tem que dizer! Diz! Porque as palavras têm poder. Mas não adianta só dizer. Você também tem que fazer! Faz! Porque você só vai saber se o final vai ser feliz depois que tudo acontecer.
Gabriel o Pensador

"VIVO(a) OU MORTO(a) - Meu reino por uma pessoa interessante"

Não sei mais o que fazer das minhas noites durante a semana. Em relação aos finais de semana já desisti faz tempo: noites povoadas por pessoas com metade da minha idade e do meu bom senso. Nada contra adolescentes, muitos deles até são mais interessantes e vividos do que eu, mas tô falando dos de "fabricação em série". Tô fora de dançar os hits das rádios e ter meu braço ou cabelo puxado por um garoto que fala tipo assim, gata, iradíssimo, tia. Tinha me decidido a banir a palavra "balada" da minha vida e só sair de casa para jantar, ir ao cinema ou talvez um ou outro barzinho cult, desses que tem aberto aos montes em bequinhos charmosos. Mas a verdade é que por mais que eu ame minhas amigas, a boa música e um bom filme, sinto falta de um amor. Já tentei paquerar em cafés e livrarias, não deu muito certo, as pessoas olham sempre pra mim com aquela cara de "tô no meu mundo, fique no seu".Tentei aquelas festinhas que amigos fazem e que sempre te animam a pensar "se são meus amigos, logo devem ter amigos interessantes". Infelizmente, essas festinhas são cheias de casais e um ou outro esquisito desesperado pra achar alguém só porque os amigos estão todos acompanhados. Tô fora de gente desesperada, ainda que eu seja quase uma.Baladas playbas com garotas prontas para um casamento e rapazes que exibem a chave do Audi, tô mais do que fora. Baladas playbas com garotas praianas hippie-chique que falam com voz entre o fresco e o nasalado (elas misturam o desejo de ser meigas com o desejo de ser manos com o desejo de ser patos) e rapazes garotos-propaganda Adidas com cabelinho playmobil, também tô fora. MUNDO IDIOTA. O que sobra então? Barzinhos de MPB? Nem pensar. Até gosto da música, mas rapazes que fogem do trânsito para bares abarrotados, bebem discutindo a melhor bunda da firma e depois choram "tristeza não tem fim, felicidade sim" no ombro do amigo têm grandes chances de ser aquele tipo que se acha superdescolado só porque tirou a gravata e porque fala tudo metade em inglês, ao estilo "quero te levar pra casa, how does it sound?" Para dançar, os muquifos eletrônicos alternativos são uma maravilha, mas ainda que eu não seja preconceituosa com esse tipo, não estou a fim de beijar bissexuais sebosos, drogados e com brinco pelo corpo todo.Tô procurando o pai dos meus filhos, não uma transa bizarra. Minha mais recente descoberta são as baladinhas também alternativas de rock. Gente mais velha, mais bacana, roupas bacanas, jeito de falar bacana, estilo bacana, papo bacana. Gente tão bacana que se basta e não acha ninguém bacana. Na praia, quem é interessante além de se isolar acorda cedo, aí fica aquela sensação (verdadeira) de que só os idiotas vão à praia e às baladinhas praianas.Orkut, MSN, chats. me pergunto onde foi parar a única coisa que realmenteimporta e é de verdade nesta vida: a tal da química. Mas então onde, meu Deus? Onde vou encontrar gente interessante? O tempo está passando, meus ex já estão quase todos casados, minhas amigas já estão quase todas pensando no nome do bebê. E eu? Até quando vou continuar achando todo mundo idiota demais pra mim e me sentindoo mais idiota de todos? Foi então que eu descobri.Ele está exatamente no mesmo lugar que eu agora, pensando as mesmas coisas, com preguiça de ir nos mesmos lugares furados e ver gente boba, com a mesma dúvida entre arriscar mais uma vez e voltar pra casa vazio ou continuar embaixo do edredom lendo mais algumas páginas do seu mundo perfeito.A verdade é que as pessoas de verdade estão em casa. Não é triste pensar que quanto mais interessante uma pessoa é, menor a chance de você vê-la andando por aí?
Tati Bernardi

"Ei você"




Ei! Sorria... Mas não se esconda atrás desse sorriso...Mostre aquilo que você é, sem medo.Existem pessoas que sonham com o seu sorriso, assim como eu.Viva! Tente! A vida não passa de uma tentativa.Ei! Ame acima de tudo, ame a tudo e a todos.Não feche os olhos para a sujeira do mundo, não ignore a fome!Esqueça a bomba, mas antes, faça algo para combatê-la, mesmo que se sinta incapaz.Procure o que há de bom em tudo e em todos.Não faça dos defeitos uma distancia, e sim, uma aproximação.Aceite! A vida, as pessoas, faça delas a sua razão de viver.Entenda! Entenda as pessoas que pensam diferente de você, não as reprove.Ei! Olhe... Olhe a sua volta, quantos amigos...Você já tornou alguém feliz hoje?Ou fez alguém sofrer com o seu egoísmo?Ei! Não corra. Para que tanta pressa? Corra apenas para dentro de você.Sonhe! Mas não prejudique ninguém e não transforme seu sonho em fuga.Acredite! Espere! Sempre haverá uma saída, sempre brilhará uma estrela.Chore! Lute! Faça aquilo que gosta, sinta o que há dentro de você.Ei! Ouça... Escute o que as outras pessoas têm a dizer, é importante.Suba... faça dos obstáculos degraus para aquilo que você acha supremo,Mas não esqueça daqueles que não conseguem subir a escada da vida.Ei! Descubra! Descubra aquilo que há de bom dentro de você.Procure acima de tudo ser gente, eu também vou tentar.Ei! Você... não vá embora.Eu preciso dizer-lhe que... te adoro, simplesmente porque você existe.


Charles Chaplin

"Amor Próprio"

Quando me amei de verdade, compreendi que em qualquer circunstância, eu estava no lugar certo, na hora certa, no momento exato.E então, pude relaxar.Hoje sei que isso tem nome... Auto-estima.Quando me amei de verdade, pude perceber que minha angústia, meu sofrimento emocional, não passa de um sinal de que estou indo contra minhas verdades.Hoje sei que isso é...Autenticidade.Quando me amei de verdade, parei de desejar que a minha vida fosse diferente e comecei a ver que tudo o que acontece contribui para o meu crescimento.Hoje chamo isso de... Amadurecimento.Quando me amei de verdade, comecei a perceber como é ofensivo tentar forçar alguma situação ou alguém apenas para realizar aquilo que desejo, mesmo sabendo que não é o momento ou a pessoa não está preparada, inclusive eu mesmo.Hoje sei que o nome disso é... Respeito.Quando me amei de verdade comecei a me livrar de tudo que não fosse saudável... Pessoas, tarefas, tudo e qualquer coisa que me pusesse para baixo. De início minha razão chamou essa atitude de egoísmo.Hoje sei que se chama... Amor-próprio.Quando me amei de verdade, deixei de temer o meu tempo livre e desisti de fazer grandes planos, abandonei os projetos megalômanos de futuro.Hoje faço o que acho certo, o que gosto, quando quero e no meu próprio ritmo.Hoje sei que isso é... Simplicidade.Quando me amei de verdade, desisti de querer sempre ter razão e, com isso, errei muitas menos vezes.Hoje descobri a... Humildade.Quando me amei de verdade, desisti de ficar revivendo o passado e de preocupar com o futuro. Agora, me mantenho no presente, que é onde a vida acontece.Hoje vivo um dia de cada vez. Isso é... Plenitude.Quando me amei de verdade, percebi que minha mente pode me atormentar e me decepcionar. Mas quando a coloco a serviço do meu coração, ela se torna uma grande e valiosa aliada.Tudo isso é... Saber viver!!!
Charles Chaplin

"A vida como deveria ser"

A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás pra frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo, até ser chutado pra fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante pra poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para a faculdade.Você vai para colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta pro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando. E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?
Charles Chaplin

"Mulheres"

Outro dia, a Adriane Galisteu deu uma entrevista dizendo que os homens não querem namorar as mulheres que são símbolos sexuais. É isto mesmo.Quem ousa namorar a Feiticeira ou a Tiazinha?As mulheres não são mais para amar; nem para casar. São para "ver".Que nos prometem elas, com suas formas perfeitas por anabolizantes e silicones?Prometem-nos um prazer impossível, um orgasmo metafísico, para o qual os homens não estão preparados...As mulheres dançam frenéticas na TV, com bundas cada vez mais malhadas, com seios imensos, girando em cima de garrafas, enquanto os pênis-espectadores se sentem apavorados e murchos diante de tanta gostosura.Os machos estão com medo das "mulheres-liquidificador".O modelo da mulher de hoje, que nossas filhas ou irmãs almejam ser (meu Deus!), é a prostituta transcendental, a mulher-robô, a "Valentina", a "Barbarela", a máquina-de-prazer sem alma, turbinas de amor com um hiperatômico tesão.Que parceiros estão sendo criados para estas pós-mulheres? Não os há.Os "malhados", os "turbinados" geralmente são bofes-gay, filhos do mesmo narcisismo de mercado que as criou.Ou, então, reprodutores como o Zafir, para o Robô-Xuxa.A atual "revolução da vulgaridade", regada a pagode, parece "libertar" as mulheres.Ilusão à toa.A "libertação da mulher" numa sociedade escravista como a nossa deu nisso: Superobjetos. Se achando livres, mas aprisionadas numa exterioridade corporal que apenas esconde pobres meninas famintas de amor, carinho e dinheiro.São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades.Mas, diante delas, o homem normal tem medo.Elas são "areia demais para qualquer caminhãozinho".Por outro lado, o sistema que as criou enfraquece os homens.Eles vivem nervosos e fragilizados com seus pintinhos trêmulos, decadentes, a meia-bomba, ejaculando precocemente, puxando sacos, lambendo botas, engolindo sapos, sem o antigo charme "jamesbondiano" dos anos 60.Não há mais o grande "conquistador".Temos apenas os "fazendeiros de bundas" como o Huck, enquanto a maioria virou uma multidão de voyeur, babando por deusas impossíveis.Ah, que saudades dos tempos das bundinhas e peitinhos "normais" e "disponíveis"...Pois bem, com certeza a televisão tem criado "sonhos de consumo" descritos tão bem pela língua ferrenha do Jabor (eu).Mas ainda existem mulheres de verdade.Mulheres que sabem se valorizar e valorizar o que tem "dentro de casa", o seu trabalho.E, acima de tudo, mulheres com quem se possa discutir um gosto pela música, pela cultura, pela família, sem medo de parecer um "chato" ou um "cara metido a intelectual".Mulheres que sabem valorizar uma simples atitude, rara nos homens de hoje, como abrir a porta do carro para elas.Mulheres que adoram receber cartas, bilhetinhos (ou e-mails) românticos!!Escutar no som do carro, aquela fitinha velha dos Beegees ou um cd do Kenny G (parece meio breguinha)...mas é tão boooom namorar escutando estas musiquinhas tranquilas!!!Penso que hoje, num encontro de um "Turbinado" com uma "Saradona" o papo deve ser do tipo:-"meu"... o meu professor falou que posso disputar o Iron Man que vou ganhar fácil!."-"Ah "meu"..o meu personal Trainner disse que estou com os glúteos bem em forma e que nunca vou precisar de plástica". E a música???Só se for o "último sucesso (????)" dos Travessos ou "Chama-chuva..." e o "Vai serginho"???...Mulheres do meu Brasil Varonil!!! Não deixem que criem estereótipos!!Não comprem o cinto de modelar da Feiticeira. A mulher brasileira é linda por natureza!!Curta seu corpo de acordo com sua idade, silicone é coisa de americana que não possui a felicidade de ter um corpo esculpido por Deus e bonito por natureza. E se os seus namorados e maridos pedirem para vocês "malharem" e ficarem iguais à Feiticeira, fiquem... igual a feiticeira dos seriados de Tv:Façam-os sumirem da sua vida!
Arnaldo Jabor
O ser humano vivência a si mesmo, seus pensamentos como algo separado do resto do universo - numa espécie de ilusão de ótica de sua consciência. E essa ilusão é uma espécie de prisão que nos restringe a nossos desejos pessoais, conceitos e ao afeto por pessoas mais próximas. Nossa principal tarefa é a de nos livrarmos dessa prisão, ampliando o nosso círculo de compaixão, para que ele abranja todos os seres vivos e toda a natureza em sua beleza. Ninguém conseguirá alcançar completamente esse objetivo, mas lutar pela sua realização já é por si só parte de nossa liberação e o alicerce de nossa segurança interior.

Albert Einsten

" A vida"

A vida é como jogar uma bola na parede: Se for jogada uma bola azul, ela voltará azul; Se for jogada uma bola verde, ela voltará verde;S e a bola for jogada fraca, ela voltará fraca; Se a bola for jogada com força, ela voltará com força. Por isso, nunca "jogue uma bola na vida" de forma que você não esteja pronto a recebê-la. A vida não dá nem empresta; não se comove nem se apieda. Tudo quanto ela faz é retribuir e transferir aquilo que nós lhe oferecemos.

Albert Einsten

"A arte de ser feliz"

Houve um tempo em que minha janela se abriasobre uma cidade que parecia ser feita de giz.Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,e o jardim parecia morto.Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.Outras vezes encontro nuvens espessas.Avisto crianças que vão para a escola.Pardais que pulam pelo muro.Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.Ás vezes, um galo canta.Às vezes, um avião passa.Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.E eu me sinto completamente feliz.Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim.
Cecília Meireles

"Borboletas"

Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco dese decepcionar é grande.As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!


Mário Quintana

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

“A única revolução possível é dentro de nós”

"Não é possível libertar um povo, sem antes, livrar-se da escravidão de si mesmo.Sem esta, qualquer outra será insignificante, efêmera e ilusória, quando não um retrocesso.Cada pessoa tem sua caminhada própria.Faça o melhor que puder.Seja o melhor que puder.O resultado virá na mesma proporção de seu esforço.Compreenda que, se não veio, cumpre a você (a mim e a todos) modificar suas (nossas) técnicas, visões, verdades, etc.Nossa caminhada somente termina no túmulo.Ou até mesmo além... Segue a essência de quem teve sucesso em vencer um império"...

Mahatma Gandhi

"Pensar"

Quando eu era menino, na escola as professoras me ensinaram que o Brasil estava destinado a ter um futuro grandioso porque as suas terras estavam cheias de riquezas: ferro, ouro, diamantes, florestas e coisas semelhantes. Ensinaram errado. O que me disseram equivale a predizer que um homem será um grande pintor por ser dono de uma loja de tintas. Mas o que faz um quadro naõ é a tinta: são as idéias dançantes na cabeça que fazem as tintas dançar sobre a tela.
Por isso, sendo um país tão rico, somos um povo tão pobre, somos pobre em idéias. Não sabemos pensar. Nisto nos parecemos com os dinossauros, que tinham excesso de massa muscular e cérebros de galinha. Hoje, TIa:: uma das naçoes de troca entre os paises, o bem ffi?!S caro, 0 bem mais cuidadosarnenie guardado, 0 bem que não se vende, são as idéias. E com as idéias que 0 mundo é feito. Prova disso são os tigres asiáticos, Japão, Coréia, Formosa, que pobres de recursos naturais, se enriqueceram por ter se especializado na arte de pensar.
Minha filha me fez uma pergunta: "0 que e pensar?". Disser-ne que esta era uma pergunta que 0 professor de Filosofia havia proposto a classe. Pelo que lhe dou os parabéns. Primeiro, por ter ido diretamente a questão essencial. Segundo, por ter tido a sabedoria de fazer a pergunta, sem dar a resposta. Porque, se tivesse dado a resposta, teria com ela cortado as asas do pensamento. O pensamento é como a águia que s6 al<;:a veo nos espaços vazios do desconhecido. Pensar e voar sobre 0 que nao se sabe. Nao existe nada mais fatal para 0 pensamento que o ensino das respostas certas. Para isso existem as escolas: não para ensinar as respostas, mas para ensinar as perguntas. AB respostas nos pemitem andar sobre a terra firme. Mas somente as perguntas nos pemitem entrar pelo mar desconhecido.
E, no entanto, não podemos viver sem respostas. AB asas, para o impulso inicial do veo, dependem de pés apoiados na terra firme. Os pássaros, antes de saber voar, aprendem a se apoiar sobre os seus pés. Também as crianças, antes de aprender a voar, tem de aprender a caminhar sobre a terra firme.
Terra firme: as milhares de perguntas para as quais as gerações passadas já descobriram as respostas. 0 primeiro momenta da educação e a transmissão deste saber. Nas palavras de Roland Barthes: "Baurn momenta em que se ensina 0 que se sabe..." E o curioso é que este aprendizado é justamente para nos poupar da necessidade de pensar. As gerações mais velhas ensinam as mais novas as receitas que funcionam. Sei amarrar os meus sapatos, automaticamente, sei dar 0 nó na minha gravata automaticamente: as mãos fazem o trabalho com destreza enquanto as idéias andam por outros lugares. Aquilo que um dia eu não sabia me foi ensinado; eu aprendi com o corpo e esqueci com a cabeça. E a condiçao para que minhas mãos saibam bem e que a cabeça não pense sobre o que elas estão fazendo. Um pianista que, na hora da execuçao, pensa sobre os caminhos que seus dedos deverão seguir, tropeçará fatalmente. Há a estoria de uma centopeia que andava feliz pelo jardim, quando foi atropelada por um grilo: "Dona Centopeia, sempre tive a curiosidade sobre uma coisa: quando a senhora anda, qual, dentre as suas cem pernas, e aquela que a senhora movimenta primeiro?". "Curioso", ela respondeu. "Sempre andei, mas nunca me propus esta questao. Da proxima vez, prestarei atenção". Termina a estoria dizendo que a centopeia nunca mais conseguiu andar.
Todo mundo fala, e fala bem. Ninguem sabe como a linguagem foi ensinada e nem como ela foi aprendida. A despeito disto, 0 ensino foi tao eficiente que nao precise pensar em falar. Ao falar, nao sei se estou usando um substantivo, um verbo ou um adjetivo, e nem me lembro das regras da gramatica. Quem, para falar, tem que se lembrar dessas coisas, nao sabe falar. Há um nivel de aprendizado em que o pensamento é um estorvo. Só se sabe bem com o corpo aquilo que a cabecça esqueceu. E assim escrevemos, lemos, andamos de bicicleta, nadamos, pregamos prego, guiamos carro: sem saber com a cabeça, porque o corpo sabe melhor. E um conhecimento que se tornou parte inconsciente de mim mesmo. E isso me poupa do trabalho de pensar o já sabido. Ensinar, aqui, e inconscientizar. O sabido e o não pensado, que fica guardado, pronto para ser usado como receita, na memoria desse computador que se chama cérebro. Basta apertar a tecla adequada para que a receita apareça no video da consciencia. Aperto a tecla moqueca. A receita aparecera no meu video cerebral: panela de barro, aceite, peixe, tomate, cebola, coentro, cheiro-verde, urucum, sal, pimenta, seguidos de uma serie de instrucções sobre o que fazer.
Nao e coisa que eu tenha. inventado. Me foi ensinado. Nao precisei pensar. Gostei. Foi para a memoria. Esta é a regra fundamental desse computador que vive no corpo humano: só vai para a memoria aquilo que é o objeto do desejo. A tarefa primordial do professor: seduzir o aluno para que ele deseje e, desejando, aprenda.
E o saber fica memorizado de cor-etirnologicamente, no coração - it espera de que o teclado desejo de novo o chame do seu lugar de esquecimento.
Memoria: um saber que o passado sedimentou. Indispensavel para se repetir as receitas que os mortos nos legaram. E elas são boas. Tao boas que nos fazem esquecer que é preciso voar. Permitem que andernos pelas trilhas batidas. Mas nada tem a dizer sobre mares desconhecidos. Muitas pessoas, de tanto repetir as receitas, metarnorfoseram-se de aguias em tartarugas. E nao são poucas as tartarugas que possuem diplomas universitarios. Aqui se encontra o perigo das escolas: de tanto ensinar o que o passado legou - e ensinar bem ­fazem os alunos se esquecer de que o seu destino não é passado cristalizado em saber, mas um futuro que se abre como vazio, um não-saber que somente pode ser explorado com as asas do pensamento. Compreende-se entao que Barthes tenha dito que, seguindo-se ao tempo em que se ensina 0 que se sabe, deve chegar 0 tempo quando se ensina 0 que nao se sabe.

"Rubem Alves"

"Leilão de Jardim"


Quem me compra um jardim com flores?
Borboletas de muitas cores,lavadeiras e passarinhos,ovos
verdes e azuis nos ninhos?
Quem me compra este caracol?
Quem me compra um raio de sol?
Um lagarto entre o muro e a hera,uma estátua da
Primavera?
Quem me compra este formigueiro?
E este sapo, que é jardineiro?
E a cigarra e a sua canção?
E o grilinho dentro do chão?
(Este é o meu leilão.)
"Cecília Meireles"