quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Maturidade - Fase Genital (Freud)

Antes as coisas eram diferentes. Claro que há algumas fases significativas, mas essa etapa é chegar no primeiro grande patamar de onde se pode mais agudamente descortinar. É mais que um rito de passagem, é um rito de iniciação, um ato realmente inaugural. Talvez haja quem embarque nessa fase aos 30 anos, aos 25, outros aos 45, e alguns, nunca. Sei que tem gente que não fará essa passagem. Não há como obrigá-los. Não sabem o que perdem os que não querem celebrar. Atingir essa fase é começar a provar do néctar dos deuses e descobrir que sabor tem a eternidade. O paladar, o tato, o olfato, a visão e todos os sentidos estão começando a tirar prazeres indizíveis das coisas, bem poderia dizer Clarice Lispector, é cair em área sagrada. Antes a gente vai emitindo promissórias. A partir daí é hora de começar a pagar. Mas também se poderia dizer: até essa etapa fez-se o aprendizado básico. A vida já se inaugurou em fraldas, fotos, festas, viagens, todo tipo de viagens, até das drogas já retornou quem tinha que retornar. Quando alguém aborda nessa fase, não creiam que seja uma coisa fácil. Não é simplesmente, como num jogo de amarelinha, pular de uma casa para outra saltitantemente. Embarcar nessa fase é cair numa epifania. É como uma criança vê pela primeira vez o mar. Na verdade, entrar nessa fase não é para qualquer um. É, de repente, descobrir-se no tempo. Antes, vive-se no espaço. Viver no espaço é mais fácil e deslizante. É mais corporal e objetivo. Pode-se patinar e esquiar amplamente. Mas penetrar nessa etapa é como sair do espaço e penetrar no tempo. E penetrar no tempo é mister de grande responsabilidade. É descobrir outra dimensão além dos dedos da mão. É como se algo mais denso se tivesse criado sob a couraça da casca. Algo, no entanto, mais tênue que uma membrana. Algo como um centro, às vezes móvel, é verdade, mas um centro de dor colorido. Algo mais que uma nebulosa, algo assim pulsante que se entreabrisse em sementes. Nessa fase já se aprendeu os limites da ilha, já se sabe de onde sopram os tufões e, como o náufrago que se salva, é hora de se autocartografar. Já se sabe que um tempo em nós destila que no tempo nos deslocamos que no tempo a gente se dilui e se dilema. Entrar nessa fase é como uma pedra que já não precisa exibir preciosidade, porque já não cabe em preços. É como a ave que canta, não para se denunciar, senão para amanhecer. É passar da reta à curva... É passar da quantidade à qualidade... É passar do espaço ao tempo. É mais do que chegar ao primeiro grande patamar. É mais que poder olhar pra trás. É hora de se abismar. Por isto é necessário ter asas, e sobre o abismo voar.